sábado, 31 de dezembro de 2016

A última carta do ano

E como não poderia deixar de ser, a última carta do ano será escrita para você!

A história desse ano começou bem antes de 2015 acabar, bem antes mesmo. Na verdade, ainda na metade do ano passado eu já começava a dar indícios, leves, do que viria a acontecer comigo nesse ano. Não houve, porém, um início exato onde tudo se desencadeou, e se houve eu não consigo precisar quando foi. Só sei que, em dado momento daquele ano, eu me vi completa e perdidamente apaixonado por você...

Meu primeiro erro.

Ter permitido que algo tão absurdo assim crescesse dentro de mim foi o primeiro dos meus erros, e depois desse seguiram-se muitos outros ainda. Mas aconteceu. Fui arrogante em pensar que poderia te conquistar e com isso colhi os frutos amargos do meu plantio. Não pensei na diferença de idades, eu com 20 anos, você com 14, mas tudo o que eu conseguia era me deslumbrar cada dia mais com sua beleza idílica. E como se isso não bastasse, sua personalidade mostrou-se ainda mais cativante que sua beleza. Impossível seria se eu não me apaixonasse!

E eu me aproximava cada vez mais, ficava mais perto, mais íntimo, e nossa amizade crescia. Isso me deixou feliz. Mas desde o princípio eu sabia que isso não poderia ir mais longe.

E então quando tive a oportunidade de ir para longe, eu fui, eu fugi na primeira chance que tive de nunca mais o ver. Acreditava que dessa forma seria mais fácil de matar em mim o que sentia por você. 

Meu segundo erro.

Acreditava que a distância poderia sufocar o amor que a cada crescia e tomava mais espaço em meu peito. Mas o tiro saiu pelo lado errado. Cada dia mais distante eu só me sentia mais infeliz, e a distância passou a não ser apenas física, sentia que nossa amizade esfriava também.

Ainda me lembro quando retornei, para passar as férias com meus pais, e te vi pela primeira vez em tantos meses. Foi como não se houvesse passado um dia sequer, o sorriso e o abraço que me deu foram os mesmos de tempos atrás, nem posso narrar o quanto me senti feliz naquele dia, e provavelmente foi ali, naquele dia, que o veneno que me destruiu foi injetado de vez em meu coração.

Depois daquele dia, eu continuava acreditando que nada poderia mudar meu destino, e que nunca ficaríamos juntos, e tinha razão, e o destino reservava para mim uma surpresa. E eu vi uma luz no fim do túnel... Uma pessoa que, surgindo do nada, se tornou meu tudo. Ele começou a dividir com você os espaços do meu coração e dentro de mim eu já acreditava que ele era a solução para os meus problemas.

Mergulhei então de cabeça naquela relação que, num primeiro momento, me pareceu um presente de Deus. Na minha cabeça, ainda tão fechada em si mesma, aquela era a chance que eu tinha para ser feliz, e eu a agarrei com todas as minhas forças.

Meu terceiro erro.

Acreditando que com ele eu poderia me esquecer de você, eu abandonei tudo, os sonhos que eu tinha, meu futuro, tudo para ficar ao lado dele. E ele logo me deixou. Mas você conhece bem essa história. E sabe também o quanto ela me destruiu. 

E foi assim que eu fui da completa felicidade ao fundo do poço. Aquele abandono destruiu em mim tudo o que eu tinha, tudo o que eu era, e tudo o que eu sabia, como se minha existência até ali não tivesse sido mais do que uma casca. Depois dela, essa casca caiu e revelou o monstro grotesco que por baixo dela se escondia.

E então. já sem forças para resistir, pois todas as minhas muralhas tinham sido postas ao chão, eu acabei sendo acorrentado pelos sentimentos que tinha por você.

Eles cresceram, evoluíram de tal forma que já não podia mais controlar, tudo o que havia dentro de mim era rancor pela felicidade que me escapara, e amor por você, o mesmo amor o qual durante muito tempo eu fugi e me escondi, até mesmo na clausura de um convento, e que agora me acorrentava e urrava em minhas entranhas. E foi quando eu, já sem mais forças para resistir, abri a você meu coração.

Meu quarto erro. 

Aos poucos fui dizendo e demonstrando que os meus sentimentos tinham evoluído. Você os notou. Já sabia, sabia e fingia não saber, dos meus olhos, olhos que guardavam maldade e ambição.

Você disse que me amava. 

Eu sorri e meus olhos se iluminaram mais do que o sol a iluminar o mundo.

Mas não era da mesma forma como eu o amava...

Se antes eu havia chegado ao fundo do poço, agora eu tinha conseguido uma pá com minha grande amiga Samara e cavado ainda mais fundo, só para ali, naquela lama, eu enfiar a minha cara e chafurdar minha alma e meu coração na imundície do pensamento humano. 

Já não sabia, ou não queria, distinguir o certo do errado. E me entreguei completamente a todos os prazeres que há muito eu já havia dominado dentro de mim.

Meu quinto erro.

Acreditar que já tinha tudo sobre controle foi talvez o meu maior erro pois, o orgulho me cegava de tal forma que eu não percebia que cada vez mais eu jogava na lama as vestes brancas que eu tinha. Mas eu não queria saber de nada disso, e me entreguei a todos, acordando a fera que adormecia dentro de mim e a libertando de todas as suas amarras.

Conheci ainda uma terceira pessoa também esse ano. Provavelmente a melhor pessoa que conheci nos últimos tempos, e a única que realmente se importou comigo. Ou ao menos demonstrou, e tem demonstrado isso. Mas ele também não conseguiu fazer com que eu fosse capaz de te esquecer...

Nesse ponto, já havia chegado ao meu limite. Minha mente foi levada ao extremo dos extremos, não era mais capaz de suportar nada, nem mais uma luta sequer. E eu já estava prestes a cometer um erro irremediável, pois tudo o que eu queria era fugir de você.

Mas a vida nunca se cansa de nos surpreender, e foi ai que ela me enviou dois anjos, que me salvaram, e mesmo sem querer ou perceber, conseguiram me arrastar para longe de toda aquela escuridão. Eles mergulharam fundo no poço onde havia caído por conta de meu orgulho, e me puxaram para fora. Se não fosse por eles, muito provavelmente não estaria escrevendo essa carta agora. Devo a eles minha vida, sem mais.

No entanto, meu sentimento não morreu. Por certo ainda não, mas eu o aprisionei. Finalmente me dei conta do quão mal ele me fez nos últimos tempos, muito embora também pensar no seu sorriso fosse uma das coisas poucas que ainda me fazer ter vontade de viver. 

Viver.

Esse ano eu não vivi. Apenas me contentei com uma existência vazia e sem sentido que quase culminou na minha morte...

Mas eu vou voltar a viver. 

Eu vou sobreviver. 

E mesmo que daqui alguns anos eu continue amando você, eu já não viverei só por você, viverei por mim também, viverei de verdade, sem meias felicidades, sendo feliz por completo. 

Te agradeço por não ter me abandonado, mesmo quando eu merecia. Te agradeço por ainda ser meu amigo. Te agradeço por tudo e mais um pouco. Mas as coisas já não serão mais como antes. A partir dos próximos dias, um novo eu irá surgir e, mesmo sem saber onde essa nova existência irá me levar, eu quero acreditar que será melhor viver lá do que aqui.

Um feliz 2017!

Do homem que te ama. 

Do louco que te ama.

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