segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Trocando coisas de lugar

"Nasceu-nos hoje um menino,
E um filho nos foi dado.
Grande é este pequenino,
Rei da paz será chamado.
Aleluia, aleluia."

(Hinário Litúrgico da CNBB - Nasceu-nos hoje)


Ah o Natal... época de alegria e renovação... Pra mim é sempre um tempo de repensar na vida... 

Como começamos as nos preparar para ele através do Advento, eu também começo a me preparar para o próximo ano numa reflexão mais pessoal. Não que eu acredite que realmente algo irá mudar magicamente apenas com a mudança dos números do calendário, mas é certo que de tempos em tempos temos temos o dever de nos reavaliar e mudar algumas coisinhas não é mesmo?

Pois bem, e é isso que tenho feito nos últimos dias, claro, com muito custo, afinal, mudar não é fácil, exige esforço e paciência, e nem sempre conseguimos mudar para melhor, ou não alcançamos os objetivos que tínhamos inicialmente. Mas é assim, nem tudo ocorre da forma como planejamos, mas gosto de pensar que tudo sempre ocorre da forma como deveria acontecer.

Não costumo fazer uma lista de planos para o próximo ano, pois me conhecendo bem eu sei que não a cumpriria de forma alguma, mas algumas coisas eu defino como prioridade. 

Por exemplo, a primeira mudança que entendi ser de grandiosa importância na minha vida é a de voltar a dar atenção a minha espiritualidade. 

Acho que, o tempo que passei no convento e a minha saída abrupta fizeram com que eu me afastasse da igreja. Não fisicamente, pois isso não mudou, mas espiritualmente. Eu estava lá, de corpo presente, como costumamos dizer, mas minha alma não estava, e não sei sinceramente por onde andou minha alma durante todo esse ano. 

Mas eu pude retornar aos pouquinhos, e a experiência de voltar de corpo e alma para minha mãe foi incomparavelmente a maior e mais importante de todas as mudanças que julguei serem necessárias. Eu percebi que já havia me esquecido. Me esquecido do significado da liturgia e do santo sacrifício do altar, me esquecido da Eucaristia e de sua graça santificadora, me esquecido da Penitência e da sua graça salvífica. Retornar, ao menos um pouco, à ascese que antes eu possuía e que havia perdido abriu-me as portas para as outras mudanças.

A segunda, e também profundamente significativa é justamente aquele que venho tentando fazer no meu interior, no tocante ao meu lado afetivo. Tenho tentado reorganizar a casa, como diz minha terapeuta. E pra isso, preciso trocar algumas coisas de lugar, jogar outras fora e ainda adquirir algumas novas. Isso significa experimentar, não novas experiências, no sentido estrito da palavra, mas experimentar novas formas de ver o mundo, a vida e as pessoas. 

Preciso então aprender, e essa mudança, fruto da primeira, é quase tão complexa quanto ela. Mas é necessário que eu consiga me rearranjar de uma forma que possa viver, mas viver bem, e não da forma grotesca em que me encontrava.

Quero dizer que preciso entender como sentir as coisas sem que isso atrapalhe minha vida. Amar sim, mas de forma saudável, e também racional, sem me deixar levar pelos agrestes escarpados e desconhecidos que me conduziram aos campos escuros e cheios de criaturas malignas a me espreitar. em que eu me encontrava, de onde agora procuro fugir.

Preciso entender e aceitar a complexidade dos meus sentimentos. Entender que nem tudo precisa ser conceituado para ser sentido. Amor, amizade, paixão, em seus conceitos são todas coisas diferentes, mas uma amizade pode conter muito de paixão e muito de amor, bem como podemos confundir a paixão com o amor... Dessas confusões nos vem os sofrimentos, e essa reeducação sentimental, por assim dizer, é uma das minhas prioridades.

Em comparação a primeira mudança essa é ainda mais difícil, pois trata-se de encontrar algo que ainda não sei o que é, enquanto na primeira, trata-se de retomar um caminho que já trilhava anteriormente. E eu já vejo os primeiros sinais de rejeição a essa mudança, bem como seus primeiros frutos.

Como disse, mudar requer esforço, e a rejeição a mudança é inevitável pois costumeiramente tememos o desconhecido. 

No sábado mesmo, véspera de Natal, eu passei muito mal quando dei de cara com aquela pessoa que ainda mexe muito comigo. Como somos amigos, não poderia de forma alguma me afastar, então dei início a minha reeducação sentimental ali. O resultado foi imediato, meu corpo se recusou terminantemente a encará-lo como um amigos apenas, e todos aqueles conceitos, amizade, amor e paixão, se chocaram violentamente entre si dentro de mim. Quase tive uma síncope. O ataque de pânico foi inevitável, bem como as lágrimas. Por sorte alguns amigos que estavam por perto se aproximaram a me ajudaram a recuperar a razão.

Não vejo isso como algo ruim, ou preocupante, mas algo bom. É sinal de que as coisas estão se realinhando. Ora, para se reorganizar a casa é preciso fazer o esforço de empurrar alguns móveis.

Isso é apenas o começo, das muitas coisas que ainda terei de aprender, mas já é um começo. Antes ter começado tarde do que tê-lo feito, acredito eu. 

E também não estou só nessa batalha. Isso pude notar também. Existem pessoas que se preocupam comigo e que mesmo sem querer ou perceber acabam me ajudando. E isso muito me alegra, ou ao menos conforta minha mente que tanto se sentia solitária.

Ainda não enxergo a luz no fim do túnel, por assim dizer, mas já não continuo parado no escuro, e mesmo que as apalpadelas, eu continuarei a caminhar. 

"Eu não vou ficar inquieta quando o chão me faltar,
Em meio a tantas lutas um pequeno lugar,
Pra me esconder do escuro quando a vela apagar..."

(Ir. Kelly Patrícia - Caminhar e cantar)

Nenhum comentário:

Postar um comentário