segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Florinhas mimosas

"Eu quisera, Jesus adorado,
Teu sacrário de amor rodear
De almas puras, florinhas mimosas,
Perfumando teu Santo Altar."¹

Há mais ou menos 1 ano, eu ouvi pela primeira vez a música "Eu quisera" na voz do Eugênio Jorge, num evento da diocese. Me lembro que na ocasião, fiquei encantado com a letra pois falava de um carinho e de uma dedicação enorme ao Santíssimo Sacramento...

Desde o começo do meu serviço ao altar, eu sempre busquei o máximo de respeito possível com a Eucaristia. No seminário, quando as vezes eu distribuía a comunhão nas missas públicas, eu me perguntava se era digno de tal coisa. E sempre soube que não. 

Mais do que ser indigno de servir o altar, como o faço, também não sou digno de receber Jesus em meu coração. 

Retornei a comunhão há poucos dias, depois de muitos meses afastado. Desde a Páscoa para ser mais preciso, e olha que já estamos no fim do Advento. A sensação de retornar para a mesa da Eucaristia foi ao mesmo tempo maravilhosa e extremamente dolorosa, pois eu sei que, continuo sendo o mesmo pecador de antes, e com as mesmas tendências ao pecado, mas que necessita desse alimento para conseguir, com muita graça, resistir. 

Eu bem sei que posso cair novamente, e sendo fraco como sou, é bem provável que eu caia, sei bem disso, e Deus o sabe melhor ainda do que eu, mas ele também sabe que é somente através da Eucaristia e da Penitência que poderei continuar a lutar, por isso ele continua me aceitando, mesmo sendo dos seus filhos, o pior.

Essa musica então me faz recordar da pecadora que, pondo-se aos pés de Jesus, lavou-os com suas lágrimas, secou-os com seu cabelo e derramou nele o melhor perfume que pôde comprar. Ela deu o seu melhor, mesmo sendo pouco, a Jesus. De igual forma, a adoração é o pouco, mas o melhor que podemos fazer.

E tem sido com esse pensamento que eu continuo servindo ao altar durante todos esses últimos anos. Sei que ainda estou muito longe de ser um bom servidor, ainda há muito o que aprender, muito o que entender para conseguir amar a Eucaristia da forma como ela merece. Sei também, que se tivesse um pingo de vergonha na cara, jamais ousaria colocar os pés no presbitério, mas preciso dessa proximidade para entender melhor o mistério da justiça divina na minha vida.

Sei que é muita pretensão de minha parte dizer algo desse tipo, mas não é de hoje que Deus escolhe os piores para os serviços mais sublimes. Ora, até mesmo Pedro, o pescador simples foi escolhido para ser o primeiro Papa da igreja, e não Paulo, o pregador que convertia multidões. 

Mas eu não sou São Pedro, nem me aproximo de suas virtudes, por isso, tento a cada dia, amar um pouco mais o serviço que recebi. Alguns dias sei que consigo, ao menos me aproximar da beleza e reverência que o santo serviço do altar me exigem, outros não, mas não quero desistir.

E para melhor ainda conseguir servir, tanto mais eu preciso amar e receber com reverência o mesmo Jesus que há poucos centímetros de mim é consagrado a cada Santa Missa. Não podia ter ficado tanto tempo longe dele, meu serviço se tornou mecânico, e embora feita de solenes aparentes repetições, a liturgia não é jamais mecânica, pelo contrário, é sempre viva. 

Quero e preciso aprender a me purificar a cada dia mais, para melhor recebê-lo em meu coração. Assim como na música, rodear o sacrário do meu coração de florinhas mimosas, e dessa forma adorá-lo da forma digna com que ele é adorado pelos santos e anjos. 

Será que conseguirei?

Sozinho tenho certeza que não. Mas não estou só nessa caminhada. 

Ao meu lado tenho a sempre Virgem Maria, que foi o sacrário mais perfeito que já recebeu Jesus. Nenhum sacrário, de nenhuma catedral da Terra é tão belo e tão ricamente adornado como foi o ventre de Nossa Senhora ao receber o Filho de Deus, logo, quem melhor para me ensinar como fazê-lo?

Sei que, minha caminhada apenas começou, e me encontro ainda numa grande noite escura, iluminada apenas pela luz que arde em meu coração, e estou sujeito a muitas quedas e tropeços, mas o primeiro passo eu já dei, e uma certeza eu tenho hoje comigo: não quero mais voltar atrás!

Eu o abandonei uma vez, e como recompensa pelo meu desvario, fui abandonado logo em seguida, assim aprendi minha lição. Agora, como um cãozinho sujo, retorno a casa de meu senhor, e por ele fui recebido. Preciso então mostrar-me de fato arrependido, mostrar que aprendi a lição e que, as cicatrizes do meu coração sirvam justamente para me lembrar do meu pecado, de forma que eu não mais volte a pecar da mesma forma.

Demorei a entender, sou um jovem burro, não há como melhor descrever, e minha ignorância é tão grandiosa que ainda me julgava inteligente. Não compreendia que meu pecado era a fonte do meu sofrimento, e que minha dor, era causada pela minha tendência a esse pecado. Posso me livrar do pecado, já o fiz, no tribunal da penitência, mas não da tendência, com ela posso aprender a fugir do pecado, através da graça. 

Percebo agora que nada posso fazer sozinho, pois o que fiz só, foi tomar uma decisão que me levou ao sofrimento absoluto. Necessito da ajuda e da graça, para só então, conseguir ir em frente.

Eu o abandonei, e agora volto arrependido, indigno de ser recebido de volta, mas assim o fui. Mais uma vez sendo esmagado pela força do amor que me criou e que eu abandonei.

"...Mas olhando em meus olhos somente me amou.
E ao me beijar, me acolheu num abraço de pai..."²

~


Notas: 1. Trecho de "Eu quisera" de Maria do Rosário. 2. Trecho de "Abraço de Pai" de Walmir Alencar.

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