domingo, 4 de dezembro de 2016

Complicados

Há tanto a ser dito que nem sei como começar. Milhares de pensamentos fluem como água a jorrar da fonte nesse momento. Meus sentimentos se dividem entre ansiedade, medo, raiva, pesar... enfim, uma lista quase interminável que ainda me mantêm preso a diversas correntes e me impedem de seguir em frente, ou de simplesmente pensar com clareza. Mas vou tentar organizar a avalanche de ideias que me vem a mente... 

Pra começar, acho que posso resumir numa coisa: 

COMO NÓS SOMOS COMPLICADOS!

O ser humano é um universo de complexidades, vivendo num mundo infinitamente complexo como ele mesmo. Somos uma escala reduzida do universo em si. Tão cheios de mistérios quando o mesmo cosmos em que habitamos. Tão repletos de incertezas e coisas a serem descobertas que quase parece ser impossível a total compreensão de quem somos. 

A cada passo que damos descobrimos dentro de nós mesmo uma série de coisas que não sabíamos ser capazes de sentir ou de possuir dentro de nós. Hoje queremos algo, amanhã não mais. O que ontem nos fez chorar, hoje é motivo de piadas. Hoje quero ser irreverente, sem ligar pra opinião de ninguém, amanhã vou cortar o cabelo pois me disseram que ficava mais bonito assim. Mais do que uma eterna mudança, parece que somos um completo enigma indecifrável. Um conjunto de muitos mistérios, que quando resolvidos revelam outros mistérios. 

Sonhamos com coisas que nunca nos trariam qualquer realização, e ainda assim sonhamos com elas como se nossas vidas dependessem disso. Tomamos decisões com a certeza de que nos trarão a felicidade, e essas decisões nos jogam num poço de dor e sofrimento. Nossas existências são risíveis e insignificantes. 

Pego como exemplo minha própria vida e a forma como eu costumo reagir aos meus problemas: Eu sofro pro situações que eu mesmo crio e depois fico a me culpar por isso, mas sem conseguir fazer absolutamente nada para mudar isso. E fico ali, remoendo aquela dor eternamente, como um cãozinho lambendo as próprias feridas. Continuamente eu me apego sem necessidade, e isso me traz dor. Pela minha experiência eu já deveria ser capaz de parar com isso, mas a cada dia só piora. 

Só piora.

Mesmo sem perceber eu puxei conversa, depois de ter jurado para mim mesmo que nunca mais o faria. Não percebi, quando notei, já tinha feito. E mesmo sabendo que nada mudou, meu coração imbecil ainda insistiu em bater mais rápido quando me respondeu. Fiquei como um tolo a sorrir para a tela do celular enquanto trocávamos mensagens vazias e frias. Mas ainda assim meu coração se aqueceu com o simples fato de saber que por alguns instantes você pensava em mim. 

Mesmo depois de eu ter jurado nunca mais derramar uma lágrima sequer eu continuei chorando. A promessa me deu forças, mas não foi capaz de mudar a realidade. 

E a minha realidade foi se distorcendo como num efeito de tarja preta, aos poucos se misturando com outras e gerando sonhos estranhos e sem sentido. Meu mundo de concreto, que eu jurei erguer por sobre uma rocha firme e sólida se mudou novamente. Mas dessa vez não para o mundo dos sonhos onde apenas pensava em ser feliz ao seu lado. Não. Dessa vez eu só pensava em você. Nada mais. Só sua imagem ali, estática, sem maiores detalhes nem significados. 

Significados.

Há alguns dias eu postei no Facebook que "Sair de nossa zona de conforto pela felicidade do outro também é dizer 'Eu te amo'". Com isso eu me lembrei de tantas coisas que gostaria de esquecer. De como você saia de sua zona de conforto por ela, mas não por mim. De como ela em poucos dias conseguiu conquistar você mais do que eu em quase dois anos. 

Mas eu já tinha jurado não chorar mais por isso. 

E agora choro por não ter mantido minha promessa. 

A promessa que fiz a mim mesmo, de que não iria mais me machucar. Meu corpo e minha mente protestaram imediatamente, e recobraram do coração a razão que ele havia usurpado.

Mas ao mesmo tempo que isso me tocou, não foi tão profundo como sempre costumava ser. E é nessa imprecisa relação de opostos que eu vou me equilibrando...

Não me preocupo com o que dizem de mim. Realmente gosto de incomodar e ver que estou sendo notado. Gosto de ser o centro das atenções, mesmo sendo tímido. E pra isso faço coisas que desagradam a maioria, principalmente em questão de opinião. Muitos não concordam com minha posição sobre a liturgia, ou sei lá, sobre a musica. Muitos não concordaram com minha decisão de fazer tatuagens, mas eu fiz mesmo assim e ainda me sinto feliz em expor isso por ai...

Mas ao mesmo tempo olhar as pessoas ao meu redor e ver que tudo o que elas tem para comigo é desprezo e repúdio também me incomoda. 

Eu não ligo pro que pensam de mim. 

Mas me incomoda saber que pensam que sou um monstro. 

Eu ligo pro que pensam de mim. 

Mas eu sou mesmo um monstro. 

Pelas minhas costas me chamam de traidor, de irresponsável, de tarado, de pedófilo. E eu nunca me importei, pelo contrário, sempre dei ainda mais motivos pra reforçar essa fama. Mas olhar no fundo de uma pessoa que me admirava e ver que hoje ela tem nojo de mim me fez questionar essa atitude. Olhar para alguém que eu queria que me amasse e ver que ela me despreza foi doloroso. 

Naquela hora eu quis correr, me esconder, mudar, ser alguém melhor, alguém que ele tivesse orgulho de ver e alguém com quem ele quisesse estar. 

Mas eu não era alguém que ele gostaria de ter como amigo. Era alguém que ele queria evitar. Alguém que ele se envergonharia ser visto em publico. Alguém que nem deveria estar ali, junto com as pessoas decentes. 

Me olharam como se fosse um monstro que devesse ficar enjaulado. 

Mas eu sou mesmo uma pessoa tão ruim?

Sou mesmo alguém digna de tanta desconfiança e horror? Alguém que todos preferem evitar ao invés de tentar se aproximar? Eu dou medo nas pessoas? Eu causo asco nas pessoas? Sou assim tão repugnante para que me olhem com o mesmo olhar que reservam para os insetos mais nojentos? 

Será que eu posso mudar, e ser alguém que cause orgulho aos outros um dia? 

Será que eu devo mudar? Será que eu preciso mudar? Será que eu conseguiria mudar? 

Mas e se eu mudar, continuarei sendo eu? 

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