quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Convicção paradoxal

"Em uma noite escura, 
de amor em vivas ânsias inflada, 
ó ditosa ventura, sair sem ser notada, 
já estando minha casa sossegada." 

Por algum motivo, enquanto buscava uma forma de começar hoje, começou a tocar a versão musical dessa poesia de São João da Cruz na minha playlist e então tive um insight do quanto ela se parece com o atual momento de minha vida. Atual mesmo, pois me refiro a essa noite em particular.

Hoje foi um bom dia. Cinema, Santa Missa. Nenhuma decepção em particular. Mas por algum motivo não foi um dia feliz, tampouco tem sido uma noite feliz. Na verdade, gostaria muito de apagar e só acordar amanhã, mas estou tentando diminuir as doses de tarja preta por motivos óbvios. Claro que isso significa ter de ficar acordado e sóbrio, pensando em um monte de coisa que não gostaria.

Nem sequer consigo dizer ao certo o que está me chateando... 

Só estou chateado. 

Sem motivo algum, parece.

Quero ficar aqui, sozinho no escuro, pensando no amor que inflama as minhas feridas e esquecendo de viver...

Ironicamente ao mesmo tempo que eu quero ficar só, sem falar com ninguém, ouvindo música baixinho, o meu coração grita louca e desesperadamente por companhia. 

EU QUERO VOCÊ, AQUI COMIGO!

EU PRECISO DE VOCÊ DO MEU LADO!

PRECISO DO SEU OLHAR, DO SEU SORRISO, DO SEU AMOR...

DO SEU AMOR...

AMOR...

ONDE ESTÁ VOCÊ AMOR?

AONDE ESTÁ VOCÊ, QUE PROCURO E NÃO VEJO?

Mas eu não quero as companhias que o meu coração deseja! Elas me fazem mal, elas me intoxicam, me envenenam... 

E de veneno, o meu sangue já está cheio.

Tenho a certeza de quero ficar sozinho, mas também tenho a certeza de desejar uma companhia do fundo de meu coração. O que fazer então com essa estranha convicção paradoxal que esmaga o meu coração e me deixa tão aflito? 

Acho que só posso ficar aqui, chorar, e esperar que logo passe. Talvez se conseguir dormir apenas com o fitoterápico que tomei, a noite não seja assim tão longa e eu consiga sobreviver a ela. 

Mas só talvez.

O óbvio aqui é que eu não sei o que eu quero. Só sei que eu quero alguma coisa. Um não sei o quê que deve ser muito importante para mim. Essa incerteza não é só frustrante, mas também irritante. Querer algo e se irritar por isso. 

Pedi para ficar sozinho, sozinho eu estou, mas continuo infeliz, o que me falta então?

A única certeza que eu tenho é de que eu não tenho certeza do que eu quero. Quero voltar a ser como antes, e muitas vezes fingir ser feliz para mascarar a infelicidade que lateja em meu peito? Ou quero continuar assim, gritantemente infeliz? 

Ironicamente nesta empreitada não há uma terceira possibilidade que se abra a minha frente com um portinha pintada de azul bebê escrita "felicidade". 

Seria mais simples, não?

Mas talvez, só talvez, a vida não seja tão simples assim, afinal, nem sequer consigo dizer o que eu quero para ser feliz... 

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