terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O mundo, meu mundo

Fechando os olhos e viajando para um mundo de fantasia... Um universo de sombras, cores e luzes escondido dentro de mim. Um lugar onde as pessoas comuns não podem entrar, um lugar onde somente a imaginação movida pelo coração pode dar acesso. Um lugar onde nada faz sentido, mas que não precisa de sentido para existir...

Ao abrir os olhos depois de uma breve viagem atravessando os umbrais que separam a realidade da minha fortaleza do coração eu me deparo com um mundo incrível. As coisas não possuem apenas as formas a que estou acostumado, apesar de que podem possuir, se assim eu desejar, mas essa não é a regra, e essa é a sua principal característica: não há regras, eu sou a regra! Aqui é um mundo onde a minha vontade é o limite universal para todas as coisas existirem. 

Posso criar um mundo tão complexo e vasto quanto a terra em que verdadeiramente habito ou reduzir toda a existência a apenas um átomo do infinito. 

Esse mundo, o meu mundo, é também marcado por essa dicotomia, por essa antítese, por esse paradoxo eterno. Ao mesmo tempo em que esse mundo existe apenas no âmago da minha alma, na profundidade do meu pensamento, esse mundo é tão real ou mais real do que a própria realidade, afinal, se minha mente é capaz de concebê-lo dessa forma e ele sendo limitado apenas por essa vontade, posso desejar que ele assim o seja.

Esse também é um mundo que muda constantemente. Não evoluindo. É muitas vezes destruído, 

remodelado, 

reiniciado, 

renascido, 

retocado. 

Nunca permanece o mesmo, muito embora exista por várias eternidades. Cada uma de suas existências pode durar um tempo infinito, ou pode não durar nada. 

Quem define isso também sou eu. 

Esse mundo é então também o lugar para onde os amplexos da minha consciência fogem para não se soltarem jamais. Lá, aqui, posso meditar sobre as desgraças e guerras do mundo, e também posso contemplar os quadros pintados por minha imaginação. Aqui, a cada novo amanhecer a minha mente se encontra em busca de uma beleza diferente. Assim como no mundo aqui de fora estamos sempre em busca de novas belezas e experiências que elevem nosso pensamento. Essa busca aqui só se diferencia por não estar presa aos limites naturais.

Posso me ver como o jovem franzino que sou. Como um valente guerreiro a lutar por sua amada ou como uma criatura mítica que vive as eternidades para atrair os homens distraídos que por aqui passem. Posso até me ver como uma entidade coletiva, sendo o conjunto de todas as existências que possa imaginar ou apenas não ser nada.

Aqui pode ser um lugar único, cheio de palácios de cristais rodeado por nuvens púrpuras onde o sol nunca se põe. Ou um templo grandioso onde possa olhar para sempre o brilho das estrelas no céu numa noite estrelada que nunca é ofuscada pelo brilho do sol, uma noite bela que nunca tem fim.

Mas as vezes esse mundo também entra em colapso. As vezes não consigo me adentrar dentro dele, isso porque não consigo perceber que já estou dentro dele. As vezes o exterior me aprisiona de tal maneira que não consigo entrar nele, mas quando percebe, já me perdeu para ele muito tempo atrás.

Aqui sempre encontro, no entanto, aquilo que quero. Muito embora o embate entre os lados da muralha, o lado de fora e o de dentro, as vezes me arranquem de forma violenta desse meu sonho. Um sonho de uma noite verão. Ou de uma tarde. Ou de uma manhã.

Gosto de fechar os olhos, ouvindo uma melodia suave e encontrar na minha frente uma tela que não poderia ter sido pintada nem pelos grandes mestres das artes. Uma realidade mais bela, mais perfeita que nenhum artista seria capaz de plasmar através das técnicas de criação do homem. 

E mesmo sendo um mundo inteiro de delícias, deleites e belezas, essa terra é apenas um rosto, uma expressão, uma pessoa.

Oh, muito suspiro por ti ao ver-te nessa imagem do universo. Mesmo sabendo não ser o real, mas apenas uma versão que habita os jardins do meu pensamento. Aqui corremos pelos montes com os filhotes de gazelas sentindo o ar fresco das montanhas em nossas faces, coradas pelo Amor. Aqui o Amor não é um sentimento, é uma pessoa, e habita este lugar desde muito antes de sua existência. 

Esse amor, esse amado, aqui existe, nesse jardim fechado, nessa fonte secreta, escondida de todo o mundo, sendo no entanto só em si mesma um grande e infinito mundo. 

Esse mundo é as vezes um único sorriso. Um gesto simples, porém de grande sentido. Outras vezes é um abraço tímido, que quase sempre indica um choque e um rompimento na muralha que separa esse do outro mundo, do mundo exterior.

Quando desse breve momento, os dois mundos se tocam, e numa fração de segundos eles se encontram, rompendo assim as regras que dizem respeito ao que existe ou não aqui ou no mundo lá fora. 

As vezes eu me pego caminhando aqui sozinho, olhando ao meu redor os belos montes cheios de campos floridos e belas montanhas repletas de pomares onde as vinhas em flor refletem sua beleza dentro de mim.

As vezes uma voz me questiona, ao me perguntar sobre aquele que reina soberano nesse mundo:

"Que é esse teu amado, mais que os outros?"

Não respondo por meio de palavras, pois num mundo onde a expressividade só é limitada pela minha vontade, posso me calar e mostrar esse mundo a voz do exterior que me pergunta isso.

É ai que faço que entendam como ele é único tanto aqui, quando no mundo de fora. Pois assim ele (não sei quem) consegue vê-lo (o meu amado) da forma que eu o vejo.

É só então quando o véu desse soberano é tirado. E sua beleza passa a resplandecer por sobre o horizonte do mundo, e sua luz chega a aquecer até mesmo os confins do meu ser. 

O mundo, esse mundo, não foi criado por ele, ele não é o criador, mas é o fim da criação, o mundo foi criado para ele. E ao contemplar sua beleza, o mundo se ajoelha aos seus pés, também admirado por tão grande beleza.

Por entre as nuvens púrpuras surge então o sinônimo da perfeita criação (minha). Aquele cuja beleza eu jamais conseguiria criar com minha imaginação. 

Depois de vê-lo, o mundo não mais consegue discutir comigo, nem torna a me perguntar:

"Que é esse teu amado, mais que os outros?"

Mas, pelo contrário, o mundo passa a compartilhar comigo desse amor. 

O mundo já o ama como eu o amo, e o mundo passa então a querer destruir a muralha que o separa de si. Já não quer mais que exista apenas na minha mente, no meu mundo, mas o quer para si, muito embora o tenha aqui, 

E então esses exércitos de loucos invadem o meu mundo e o tomam de mim. 

Mas eles não puderam perceber que não podem tomar o que pertence a esse mundo. Ao sair de minha presença, desfaz-se em areia este que existe apenas para mim, e o mundo não pôde tê-lo, não pode compreendê-lo. Ele volta para o meu lado, retorna para o meu mundo, onde, novamente coberto por seu véu, senta-se em seu trono para lá de cima observar a minha criação por toda a existência, por toda a eternidade. E daqui debaixo eu o observo. 

O observo sendo rei, 

sendo único, 

sendo belo, 

sendo amor, 

sendo meu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário