terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Amor ao sofrimento

"Sim, minha alegria é amar o sofrimento, eu sorrio mesmo lágrimas vertendo.
Pois aceito com agradecimento os espinhos que entre rosas vou colhendo."

Esta letra é trecho de uma música da Ir. Kelly Patrícia, baseada numa passagem de Santa Terezinha do Menino Jesus, e embora me custe muito distorcer assim as palavras de uma santa e doutora da igreja, penso que ela se aplique bem a minha realidade, muito embora não da mesma forma que se deu com a pequena grande florzinha do carmelo.

Acontece que ela, para mim, reflete a minha tendência masoquista, que nos últimos meses tem se acentuado cada vez mais. Parece que criei tal apego ao sofrimento e a tristeza que ambos se tornaram verdadeiros vícios, me tornando incapaz de levar uma vida feliz, não por conta das desgraças que me acorrem, mas por conta do meu amor ao sofrer. 

Ontem falava com uma amiga sobre isso, que viver dessa forma é uma existência miserável. Até mesmo aqui também já escrevi sobre isso não uma, mas dezenas de vezes. Parece que me tornei viciado nos amores que me causam algum tipo de dor. Tem sido assim durante toda minha vida, mas nos últimos anos isso tem prejudicado já. Meu rendimento na faculdade caiu em vários momentos, minha vida social se resumiu a quase nada e até mesmo o meu serviço na igreja decaiu por conta disso.

Eu ando quieto pelos cantos, sozinho, de preferência no escuro. A luz e as vozes das pessoas, mesmo as mais queridas, me irritam profundamente e me fazem querer voltar ao meu abrigo. Não consigo mais conversar com ninguém por muito tempo, pois para mim tudo isso é perda de tempo e um esforço enorme. Não tenho vontade de sair, nem de beber, nem de me divertir. Nem mesmo meus animes são capazes de me distrair de verdade. Tudo o que eu quero é continuar quieto, no escuro, ouvindo música, sem ser incomodado por ninguém.

Dentro de mim, já não tão nas profundezas assim, se encontra um desejo de morte. Não raramente eu me encontro completamente inebriado pelo aroma da morte. Ainda nessa manhã eu desejava morrer de algum forma que chamasse a atenção das pessoas, que despertasse naqueles que amo um sinal de minha existência. No entanto minha veia romântica me impede de conseguir a coragem para tal feito, e eu fico a desejar uma morte bela, heroica, como todo bom amante shakespeariano. 

Essa vontade revela em mim uma dicotomia estranha. Enquanto eu desejo ser visto e sentido pelos que amo, na esperança de que isso desperte neles algum traço dos sentimentos que em mim existem, eu também desejo o esquecimento. Não raramente também me vejo querendo retornar ao nada, ao vazio. Vazio este que apenas seria uma manifestação maior do vazio que há em mim.

Esse vazio me provoca uma busca constante. Sempre procurando nos braços do homens algo que possa usar para preencher esse vazio, mas que eu nunca encontro. 

E essa busca é sofrida, e me parece ser justamente a ele que eu tenho me apegado. Não consigo portanto colocar um ponto final em nenhuma de minhas histórias, e chego ao cúmulo do absurdo de sofrer profundamente por alguém que sequer pensa em minha existência.

Derramar lágrimas, costumam dizer, é libertador, no entanto me parece que as lágrimas somente conseguem imprimir mais profundamente em mim a dor que sinto. 

Como disse a minha amiga: isso não é vida. Não há nessa existência nenhuma dignidade. Chorar até dormir todas as noites, derramar lágrimas somente por ter imaginado ver tal pessoa do outro lado da rua, ou perder a voz e não conseguir mais falar por ele ter vindo falar comigo, exemplos básicos do que acontece comigo quando o vejo. Ao mesmo tempo que quero abraçá-lo forte e não deixar que se vá para longe de mim, eu também desejo correr, fugir e me esconder num lugar onde nunca mais serei visto, e nunca mais ouvirão falar de mim.

Eu não sei o que fazer, não sei como colocar fim a toda essa situação, pois como já disse, me encontro apegado a dor e ao sofrimento e não sei como reverter esse quadro. Tenho a minha frente uma grande tela em branco, a tela de minha vida, e não sei o que nela pintar.

Quanto a mim, não sei até quando conseguirei equilibrar essa situação com o mínimo de sanidade mental. Tenho medo de, a qualquer momento, perder por completo a razão, pois quando isso acontecer, não serei mais eu a existir, apenas uma besta guiada apenas pelos seus instintos e desejos. Um monstro. 

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