sábado, 25 de fevereiro de 2017

Deserto

Somos bilhões de pessoas, e elas estão em todos os lugares, fazendo todas as coisas possíveis... Ninguém está de fato sozinho, basta olhar ao nosso redor para percebermos que o mundo nos oferece possibilidades quase infinitas de pessoas com quem podemos nos relacionar. E isso não é ruim, mas também não é porque somos muitos que relacionar-se com o outro é fácil, muito pelo contrário...

Esse já é um discurso deveras conhecido e com certeza eu não sou o único e também não serei o último,  fazê-lo... 

Acontece que me sinto sozinho. Mas não estou sozinho. Meu pai e meus irmãos estão na sala assistindo uma partida de futebol. Minha mãe está na casa da minha tia, cuidando do meu avô. Eu estou quieto no meu quarto, desde as 14h, dormindo, simplesmente deitado, assistindo ou pensando numa série de coisas que não devia.

Sei bem que esse ócio é prejudicial, e a solidão pode ser fatal. O que as pessoa geralmente fazem quando se sentem sozinhas? Nada que se aproveite, isso é fato. Mas eu não tenho força física e nem psicológica para tomar qualquer outra atitude que seja.

E o tempo ocioso parece ter uma espécie de contrato vitalício com o coração, e aparentemente esse contrato foi registrado em cartório pelo capeta, pois basta que eu fique apenas alguns minutos fazendo "nada" que meu pensamento flutua para o lado dele. 

Mas não é o lado dele, propriamente dito. Não sei onde ele está, não sei o que ele está fazendo. Somos amigos apenas de nome, talvez porque ele tenha medo de que se dizer que nossa amizade acabou eu acabe sofrendo ainda mais. Grande engano. Meu sofrimento está no silêncio. Sofro por não receber notícias, sofro por não ver aquele sorriso único, sofro por saber que não sou importante.

Ele se encontra fora de alcance para mim. 

Física e afetuosamente. 

Completamente distante, sem chance.

E me sinto só, sofro por isso. 

Meus planos falharam. Meu amor se foi. Não tenho mais nenhuma razão pra continuar lutando, não há o que fazer, não há motivos pra continuar insistindo numa vida tão vazia assim. 

Me vejo agora num deserto. Se olho para cima, vejo um céu claro, sem nuvens, cujo calor me abrasa a pele e me faz falhar a respiração. Para todos os lados só consigo ver areia. Areia. O símbolo do frágil, do inútil, do passageiro, do efêmero. O símbolo da minha vida.

Ironicamente nas costas tenho a marca da morte, a Houmounka, como símbolo de sobrevivência, mas isso está errado, eu não sou um sobrevivente, sou um fracassado. Não consigo sequer dar um passo rumo a um crescimento acadêmico e nem tampouco consigo resolver meus problemas afetivos.

Não consigo deixar de amá-lo, nem tampouco consigo conquistar seu coração. Um completo inútil. 

Por isso me sinto como um grão de areia no deserto. Pequeno, inútil, rodeado por outras miríades de grãos. Tudo o que eu faço é voar com o vento, sem destino, incomodando o olhar dos viajantes que passam... Um grão de areia, perdido na imensidão do deserto. Deserto esse que reflete o que se passa no meu interior. Não há em mim mais sinal de vida, nem de sombra ou água fresca. Apenas um sol abrasador e um solo infértil que apenas pode conduzir a morte. 

Um deserto é assim, e por mais que nele andem, não é possível encontrar uma vida florescente, ou um ambiente agradável. É tudo inóspito, não propício a vida... E é isso que eu sou, uma areia no deserto.

Uma areia no deserto. 

Um deserto. 

Meu deserto. 

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