sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Observador

Nosso mundo é de uma grandiosidade inimaginável. Qualquer um que já tenha viajado, por poucos lugares que seja,consegue perceber o quanto o mundo guarda segredos maravilhosos. 

Não é raro ver que os homens, especialmente as crianças, sonham com aventuras fantásticas, que se passam por mundos de fantasia moldados no interior de nossos sonhos mais livres. Afinal, quem nunca sonhou em ser um grande herói, com poder para mover montanhas, ou de voar rasgando o céu, sendo visto como deus pelos homens? Todo garoto já sonhou em ser um super homem, pois deve ser fantástico fazer coisas que ninguém mais é capaz de fazer, e ser admirado por elas... 

Meus sonhos não ficaram na infância, ainda sonho em lutar com super vilões e salvar o mundo, ganhando da mocinha (?!) um beijo ao final de tudo. Isso porque eu ainda desejo poder fazer coisas que ninguém mais consegue. Pois tolo como sou, não percebo a grandiosidade das coisas de que sou capaz, afinal eu sou único!

Sei bem que a internet já está completamente repleta de textos motivacionais que sempre dizem as mesmas coisas: "Você é único, incrível, só você é capaz de realizar seus sonhos, por isso acredite em você mesmo..." e por aí, as possibilidades são infinitas, mas verdade seja dita, a esmagadora maioria desses textos são manjados demais para surtir qualquer efeito que seja na alma ou na auto estima de uma pessoa. Quem os lê então, a menos que esteja buscando apenas massagear o seu ego já bastante inflamado, muito provavelmente vai terminar sua experiência de contato tão vazio ou mais vazio do que antes. Isso porquê se uma pessoa não acredita mais em si mesma, não é um texto de autoria de pseudointelectuais que irá mudar isso. A mudança da auto estima parte de dentro, e é quase impossível que alguém de fora consiga mudar algo que dentro de nós já está deveras prejudicado.

Não que eu tenha moral alguma pra dizer isso, afinal eu ainda espero ansiosamente pelo dia em que andar por ai com uma máscara na cara seja socialmente aceitável, pois acho covardia obrigar o mundo a olhar para mim.

No entanto, vejo que tantas outras pessoas passam pelo mesmo problema que eu. Não acreditam em si e nem em seus potenciais. E é complicado observar isso sem conseguir fazer nada. Meus amigos mesmo, tenho orgulho de dizer que são algumas das pessoas mais fantásticas que já conheci, e a honra que é ter sua amizade é quase incalculável, mas ainda assim, eles tratam a si mesmos como se fossem piores do que a escória da humanidade. 

Estranho ver um dos homens mais bonitos que conheço dizer que se considera feio, e ver o quanto sua auto estima é ruim por não ter o corpo que considera belo. O mesmo se passa comigo, não que eu seja bonito, claro!

Acontece que, os heróis que conheço, ou melhor, as pessoas que realizam feitos incríveis, são na verdade pessoas comuns. De perto, nenhuma delas é realmente extraordinária. E ao mesmo tempo todas o são. 

O que estou tentando dizer é que ninguém é um super homem 24h por dia. Alguns são o são quando voam nos altos céus, ou quando levantam carros com apenas uma das mãos. O mesmo para quem consegue estudar, trabalhar e ainda ter pique pra sair com os amigos no fim de semana. Isso é ser um super homem. 

Ser um herói é saber reconhecer uma boa música numa sociedade onde todos foram bestializados pela triviliade da produção de massa que transformou uma sub-cultura em algo digno de ser ouvido, mas que deveria ser apenas usado como exemplo do que não ser e do que não fazer.

Se nos quadrinhos os heróis precisam salvar a terra de invasões alienígenas e gênios do crime os os heróis do mundo real precisam salvar os homens deles mesmos, pois a morte se tornou objeto de desejo do homem, que acredita desejar uma vida de prazeres.

Valores trocados, experiências vazias de sentido e significados, uma sociedade deprimida e ansiosa. E no fundo da alma, um garotinho ainda sonha em fazer a diferença. Sua visão infantil de justiça e de certo e errado é a única amarra que o impede de sucumbir a zumbificação dos que o rodeiam, mas isso significa que ele se sente sozinho, afinal é incompreendido e mal visto por todos. E as vezes esse herói se sente incapaz de salvar seu povo, e no íntimo ele começa a se perguntar se talvez não fosse melhor render-se, desistir de lutar e apenas entregar-se, levando a vida que todos querem que ele leve.

Eu não sou um herói, não tenho forças para realizar nada do que os outros são capazes. Também não sou um intelectual, capaz de guiar com a razão aqueles que possuem força dentro de si. Eu só observo, e sendo um mero observador eu apenas posso acompanhar, na maioria das vezes com tristeza, os rumos que tomam os heróis desse mundo. Tragicamente percebo que até mesmo aqueles que deveriam guiar a humanidade para o progresso na verdade apenas lanças os seus no precipício. Mas a hipnose foi completa e todos acreditam caminhar em direção a terra prometida, quando na realidade caminham para a morte certa. O observador não tem voz, nem tampouco força, o observador não é um herói, ele apenas sonha.

Sonha com um mundo melhor, com uma vida feliz, com um amor perfeito, com uma grande aventura. Mas não pode realizar nenhum de seus sonhos. 

E então com tristeza ele observa sua própria imagem, que se reflete num espelho d'água, e vê que nunca será um herói, nunca será importante, e nunca conseguirá salvar sua humanidade. É muito fraco, muito pequeno, não possui nenhum atributo dos guerreiros, nem dos magos, nem dos sábios. Não pode então lutar, nem liderar, nem conjurar feitiços, nem ser exemplo a ser seguido. Ele é apenas ele mesmo, sem acreditar em si, mas já sem esperanças no outro também. 

O que poderá ele, tão pobre, tão frágil e tão covarde, realizar sozinho? Nada.

A verdade é que alguns nasceram sob uma boa estrela, nasceram destinados a grandeza. Outros destinados ao fracasso, e existem ainda aqueles que não foram destinados a nada. Apenas vivem para observar as vitórias e fracassos do outro, mas sem nunca tomar perdido em nenhuma batalha para si. Morreram da mesma forma que viveram, sem nada realizar e sem nada para surpreender os seus.

Aceitar isso é a única coisa que um desses observador pode fazer, para tentar ter o mínimo de felicidade que sua condição desprezível lhe posssibilita. 

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