quarta-feira, 1 de junho de 2016

Das cartas que nunca serão enviadas #3


Eu sei que já tivemos o nosso ponto final. Por favor, não veja isso como uma tentativa minha de começar a escrever um novo parágrafo, mas sim como uma espécie de pósfacio, em resposta ao prefácio que me negou quando terminou comigo mas que, de certa forma, foi o que me possibilitou sovreviver aquele fatídico dia.

Vou então começar do início.

Adicionei você no Facebook com base no amigos em comum, depois de ver uma foto sua com o gêmeo de meu ex. Não conversamos por vários meses. Eu sempre curtia suas coisas, as vezes comentava e você as vezes respondia, mas por um bom tempo não passou disso.

Achava engraçado suas publicações provocativas, admito que algumas me assustava, mas tinha vontade de te chamar e conversar, só me faltava coragem. Isso mudou no ano novo, quando tive coragem de falar com você pela primeira vez. Lembra daquela mensagem cheia de bobagens? 

Depois disso nos conhecemos rapidamente. Alguns dias e marcamos aquele encontro no Shopping. Mais alguns dias ficamos pela primeira vez no parque. Foi um dia e tanto não? No fim de semana seguinte já estava sendo apresentado aos seus pais. Lembra de como rimos por sua mãe ter enviado mensagem pra metade da minha família?

Fiquei muito constrangido aquele dia. Primeira vez que era apresentado aos pais de alguém que sabiam que eu estava pegando o filho deles. Mas foi bom, fui super bem recebido, fiquei contente por finalmente ter um relacionamento de fato com alguém.

Na outra semana fomos visitar seus parentes. Mais um fim de semana divertido. Piscina, musica e boa companhia? Da pra melhorar? Você fez ser ainda melhor. Naquela noite de sábado tivemos a nossa primeira vez. Especial para mim em muitos sentidos. Foi a minha primeira vez. E foi com você. A noite que eu provavelmente nunca vou esquecer. As marcas que ficaram em mim me lembraram de ter você comigo naquela noite. Também foi especial pois naquele dia você aceitou namorar comigo.

Entramos num ritmo frenético desde então. Nos viamos todo fim de semana. Eu ia te visitar, saiamos com amigos. Cinemas, apresentações culturais...

Pela primeira vez me senti completo. Feliz. Realmente. Finalmente eu tinha conseguido encontrar alguém que me dava aquilo que eu precisava: atenção, carinho... Mesmo hoje, passados já alguns meses do nosso término, ainda me arrisco a dizer que aqueles foram os dias mais felizes que já tive.

Quando me recordo dos momentos que passamos juntos, eu sempre penso no infinito. Pois parecia que aqueles momentos nunca iam acabar, e porque pra mim, estar ali com você era o máximo que iria querer. Não desejava mais nada além de que aquele momento durasse pra sempre. Sempre. Quando me tocava, o prazer que me dava. Quando ouvia você gemer baixinho no meu ouvido, o quanto me enlouquecia. Quando me beijava com o gosto de skol beats que hoje só associo a você. Enfim, parece que eu finalmente tinha encontrado uma razão pra viver.

Seria impossível pra mim escrever aqui o quanto eu me sentia feliz em ter você comigo. Ali comigo. Um sentimento de melancolia percorre agora o meu corpo. Me arrepio novamente ao lembrar do seu toque, lembrar dos seus lábios, lembrar dos seus olhos negros... que tanto me encantavam. Ah, como eu gostava de ver você dormir, o semblante descansado, despreocupado. Ah, como eu gostava de olhar os seus olhos... Mas acho que nunca entendi de verdade o que eles queriam me dizer. Talves, se eu tivesse mergulhado mais profundamente naquele oceano negro brilhante do seu olhar, eu não teria sofrido tanto. Sinto que poderia ficar horas inteiras tocando seu rosto, segurando suas mão ou simplesmente viajando no seu olhar, enquanto afagava seu cabelo. Me perderia ali sem ver o tempo passar, e estaria feliz com isso. Meu pedacinho de infinito. 

Mas acabou.

Eu vi você lentamente se afastar de mim. Vi você anunciar nosso fim "sem prefácios". Também não consigo escrever o desespero, o pânico que senti aquele dia, quando disse que precisava conversar comigo urgentemente. Eu vi tudo o que eu construi sob frágeis instalações, movido pela pressa, desmoronar bem na minha frente.

Aquela manhã de domingo, dois meses e uma semana depois de começarmos a namorar, também vai ficar gravada como a mais fria da minha vida. Aquelas suas palavras me cortaram tão profundamente que nem sei se um dia as cicatrizes irão desaparecer. Me cortaram como uma lámina fria. Que apagou a chama que eu supunha existir entre a gente.

Foi ai que eu notei o quanto eu exagerei. Exagerei por me entregar facilmente. Exagerei por amar facilmente. Exagerei por fazer tantas promessas facilmente. 

Eu te prometi a felicidade. Como pude fazer isso? Prometi lutar pra te fazer feliz. Mas não pude lutar contra sua fria decisão. Então, enquanto caminhava de volta pra casa naquela iluminada porém acinzentada manhã de domingo, eu deixei mais do que você pra trás. Eu deixei nós. Deixei pra trás todos os planos de para sempre que tinhamos feito. E olha que não tinham sido poucos. Você dizia querer que durasse tanto quanto eu, e isso foi o que mais me deu segurança. Talves sirva de aprendizado para eu parar de acreditar que os outros esperem que algo dure pra sempre, e acredite somente em quem luta pra fazer algo durar pra sempre. 

O que mais me doeu foi justamente ver todas as promessas cairem por terra. Transformarem-se em poeira e voarem para longe, se espalhando pelos quatro cantos do mundo como cinza. Como se nunca tivessem existido. Como se nunca tivessem sido minha razão para ter acordado durante aqueles dias. Minha razão pra ter largado o seminário. Minha razão.

Você foi o motivo de eu abrir os olhos sorrindo durante aqueles dias. O motivo do meu sorriso bobo estampado pemanentente no meu rosto durante aqueles dois meses. Você foi minha inspiração pra enfrentar meus pais. Pra enfrentar o julgamento do mundo. Por você eu queria ter morrido, heroicamente com uma bala no peito, para defender a sua vida. Por você.

E do mesmo jeito que um castelinho de areia cede frente a uma onda, você quebrou em cima de mim, e meu castelinho caiu sem deixar naquela praia vestigio de um dia ter existido. Sem deixar vestigios também do garotinho que um dia ali se ajoelhara para construir o que ele acreditava que seria o amior e melhor de todos os castelinhos de areia. E que depois da onda teve de voltar para os braços da mãe, que observava distante, seu filho construir onde ela sabia não ser seguro.

Aquilo acabou comigo de um jeito que eu não sabia ser possível. De repente eu, que sempre fora tão certo das minhas convicções, me vi desamparado do mundo. Sem saber que rumo tomar na minha vida. Sem saber o que fazer. Que atitude tomar. O Lexotan e o Rivotril quase acabaram e só agora, meses depois, é que começo e ficar novamente sóbrio, pra tentar seguir a vida novamente. 

Mas ei de conseguir superar esse sentimento um dia. Ei de conseguir esquecer você, que foi meu primeiro namorado. Meu primeiro homem. Espero que eu tenha sido marcante pra você como você foi pra mim. Meu pequeno de cabelos e olhos negros, sorriso lindo e personalidade única. Meu tão grande amor. Meu ex amor. 

Por fim, se lembra do poema que eu usei pra dizer que te amava pela primeira vez? É com ele que eu encerro essa carta de adeus a você:

"Só deixarei de te amar,
quando o manto da morte cobrir o meu rosto.
E mesmo assim, 
ao meu lado nascerá uma rosa.
E com letras de sangue nela estará escrito:
Eu amo você!"

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