domingo, 19 de junho de 2016

Dos afetos da alma

Nesses últimos dias eu me aventurei na missão de ouvir todos os meus CDs do Super Junior, e olha, acho que eu devia ter feito isso antes. Posso até estar ouvindo mais os hits do momento do que as músicas dos meus bias, mas certamente nenhum outro grupo tem tantas músicas boas pra mim como esse. Caramba. A única capaz de se igualar a eles, mas não de superar, é a diva da Hitomi Shimatani, que também é dona do meu afeto musical, mas ambos se encontram empatados. 

Já disse muitas vezes aqui que a música tem esse poder sobre mim, me faz viajar, me leva a lugares inimagináveis e me faz conhecer pessoas que eu jamais poderia conhecer em outras oportunidades. Talves porque pra mim, a música seja a arte suprema, a maior manifestação dos afetos da alma, e a forma mais completa que o homem tem de se exprimir. Claro, apaixonados por teatro, artes plásticas certamente discordaram, mas essa é a pequena opinião deste jovem musicista. No momento por exemplo, eu escuto as vozes destes rapazes que estão literalmente do outro lado do globo e sinto como se os conhecesse tão bem quanto conheço meus amigos mais próximos. 

Então os sons tem isso de sobrenatural, a capacidade de exprimir os afetos mais profundo da alma do artista e ainda tocar o coração do ouvinte, de forma tão profunda que eles podem quebrar as barreiras existentes nos sentimentos das pessoas e trazer à tona aquilo que elas tem de mais profundo. Mas pra isso, ela tem de ser encarada com seriedade. Pra tocar o coração, ela precisa de espaço, por menor que seja, e o esto ela faz sozinha. Vai quebrando as barreiras, rompendo os limites dos sentimentos, e por fim, aflora aquilo que as pessoas tem de mais profundo. E esse é o poder irresistível da música,  esse acorde noturno capaz de arrebatar os corações. 

E ainda com essa mentalidade, eu acabei de ver um filme sensacional, 200 Pounds Beauty (200kg de Beleza, numa tradução literal). Trata-se da história de uma moça, que embora tendo uma voz incrível, ficava nos bastidores dos shows, enquanto uma atriz bonita ficava no palco recebendo os holofotes e claro, a fama. Ela também é apaixonada pelo produtor da cantora, e numa festa, acaba ouvindo dele que ela na verdade foi feita pra ficar nos bastidores, escondida do mundo, por ser feia. Então ela decide fazer uma mega cirurgia plástica e voltar gata pra caramba pra esfregar o talento dela na cara da sociedade. Bom, ignorando os absurdos de que na verdade ela no máximo ficaria sim mais bonita, mas nunca com uma beleza natural como a da atriz que interpreta o pós-operatório. Mas cara, a história mexeu comigo de verdade.No fim das contas, quando ela estava no auge de sua carreira, ela conta toda a verdade para os fãs, quando ela viu que teria de abandonar de vez quem ela era, e quem ela amava, pra viver somente a personagem criada na cirurgia. 

A estória fala de aceitação, superação, auto-afirmação. A personagem só se aceitou de fato como ela era, e contou isso ao mundo sem medo, quando se viu frente a situação onde seu pai era humilhado a sua frente e a única forma de impedir isso era dizendo a verdade, que ela era sua filha. Daí então ela decidiu não mais viver aquela mentira. Triste foi ver o quanto ela teve coragem de mudar a si mesma para ser aceita pelos outros e principalmente pelo homem que amava. Buscava a aceitação dele mas não se aceitava. Não era pra ser uma história tão profunda assim, mas acabou sendo, pelo menos pra mim. 

Quantas vezes não mudamos quem nós somos de verdade só pra agradar alguém? Tenho aprendido nos últimos tempos que a auto-afirmação pode ser benéfica, no que se refere a conquista de espaço e respeito. Eu mesmo admito que por vezes deixei de me expressar com medo do que os outros pensariam de mim. Mas eu dificilmente abaixo a cabeça agora. Não importa se não tenho argumento, eu faço o que eu quero, simplesmente porque eu quero. Claro, não me submeti a nenhum procedimento cirúrgico pra aprender isso, mas de certa forma, as ocasiões que me deixaram assim, podem ser consideradas essa cirugia.

Agora, traçando um paralelo entre a primeira parte do texto, sobre os afetos da alma presentes na música, e a segunda, sobre auto-aceitação, eu começo a me debruçar sobre outras coisas. 

Novamente volto a me perguntar até que ponto a nossa própria consciência pode ferir o outro? A maioria das pessoas parece que simplesmente precisa se expressar no intuito de ferir os outros, como se isso pudesse trazer alguma contribuição verdadeira pra si. Mas será que a sociedade anda tão oprimida por toda a informação que nos cerca que precisa se auto-afirmar as custas dos outros a cada momento? 

Parece que nesse ponto caí em contradição, mas o que eu quero dizer é que há uma diferença, entre conquistar o espaço que lhe foi privado e querer invadir o espaço do outro. Novamente chegamos no problema do Campo A.T., nesse campo da existência que no objetivo de nos defender, acaba por ferir a consciência alheia, e com isso, gerando os conflitos da humanidade. O que impede então as pessoas de cultivarem sentimentos afetuosos uns com os outros seria então essa forma errada de uso da consciência, onde, pra estar vivo, é necessário diminuir a existência do próximo.

Acredito então que nesse ponto, a música novamente tenha um papel primordial. Ela é capaz de neutralizar esse campo, ou ao menos reduzir seus efeitos. Mas por vezes, eu vejo que os escudos estão tão erguidos que é quase impossível diminuir, até mesmo para uma força titânica como a da música. Continuo na busca então de uma solução. A cada dia fico mais favorável a Instrumentalidade Humana, e penso se existe uma forma de realmente fazer com que ela aconteça. Imagino que se isso for possível, certamente vai ser por meio da música, ou algo parecido. Mas creio que o sono também vem afetando meu raciocínio, porque isso aqui já perdeu qualquer senso de sentido que poderia ter tido. 

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