terça-feira, 28 de junho de 2016

Devaneios da meia noite com Brahms

Ah, a criação humana... De todas as coisas criadas por Deus, o homem tem seu lugar de destaque como sua maior criação, já que somos a sua imagem e semelhança. Acredito que esse imagem e semelhança seja num âmbito tão amplo e profundo que jamais poderá ser explorada completamente. Podemos perceber isso nas grandes aspirações da alma humana. Basta olhar para os grandes feitos da humanidade, assim como fomos criados em detalhes tão perfeitos, o homem também é capaz de criar coisas maravilhosas, claro, cosias também terríveis, mas gostaria de me deter somente a um aspecto otimista da criação nesse dado momento, visto que da coisas ruins pessimistas, a vida já está cheia. 

E de todas as coisas que essas pequenas criaturas feitas a imagem e semelhança  de Deus criaram, a música certamente tem seu lugar de destaque como a maior delas. Ao menos pra mim, claro. Ora, muitas são as criações maravilhosas da humanidade: a poesia e a arquitetura são algumas das mais belas. Basta olhar para os versos apaixonados de Shakespeare, ou para construções como a Grande Muralha da China, ou as Pirâmides do Egito, para perceber que o homem sempre almejou a grandiosidade, e sempre tentou alcançar essa mesma grandiosidade através da expressão dos afetos de sua alma. Mas num ponto eu acho que o homem conseguiu alcançar o ápice dessa expressão: através dos sons. 

Romantico como sou, estou a escrever depois de uma audição fantástica da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (OSTNCS), que nessa noite de terça (28), sob a batuta de seu Regente Titular, Claudio Cohen, performou a célebre Sinfonia N°1, Op.68 do alemão Johannes Brahms. Primeiramente, sobre o compositor, Brahms está dentre aqueles que menos escuto dentro daqueles que mais gosto. Não sei se deu pra entender nessa frase confusa, mas posso tentar explicar. Dentre os compositores que mais gosto, Brahms é o que menos escuto, o que fica a margem da minha playlist. Não que não considere sua obra brilhante, só que por vários motivos, outros compositores ganharam mais a minha admiração. Dito isto, fica claro que não sou um especialista em sua obra, e dentre as muitas peças que tenho dele, somente a referida sinfonia, o Concerto pra Violino e as Variações em Tema de Paganini, ganharam o meu gosto. Escuto com determinada assiduidade, inclusive, principalmente as duas últimas.

Conheci a sua 1° Sinfonia através de Nodame Cantabile, e admito que gostei logo de cara, principalmente o seu 1° Movimento. Mas a experiência de hoje mudou completamente a visão que eu tinha dessa obra. Dessa vez, merece crédito o regente, que diferentemente das outras vezes que o vi reger, não segurou a orquestra e conseguiu um Brahms enérgico e voraz, como tem de ser. Sempre achei Cohen um pouco contido demais, mas no entanto, hoje ele conseguiu me impressionar. 

O 1° movimento da obra, Un poco sostenuto, é de uma capacidade revigorante. Principalmente no que se refere a carga emocional do tema principal. A obra num todo soa como um grande tributo a Beethoven, e em alguns momentos tem-se a impressão de que ele simplesmente transcreveu alguma obra do mestre alemão para a pró´ria partitura. Não que isso tire o seu mérito, muito pelo contrário. Penso eu que Beethoven não poderia receber uma homenagem mais digna que essa: uma música tão maravilhosa como as suas foram. Particularmente adoro as passagens maís rápidas e poderosas, e disso, o tema principal do 1° movimento e o 4° e último movimento, Adagio, tem de sobra. Só lamento, como sempre, a quantidade de pessoas a dormir ou dispersas na sala do concerto, enquanto eu me controlava pra não ficar de pé e gesticular ferozmente ao lado do maestro Cohen! De fato, uma obra grandiosa, gostosa de se ouvir, e que nos leva a uma viagem pela paixão da música revolucionária de Beethoven. Sinto como se Brahms tivesse despido Beethoven a sua frente e transcrito suas impressões na partitura. Sublime e idílico são as palavras que usaria pra descrever, mas ainda sim, carece de adjetivos que possam contemplar sua beleza. Como uma grande viagem as ruas iluminadas de uma grande cidade do século XVIII, com suas ruas de pedra, os vestidos longos e luxuoxos, e os compositores que hoje são tidos como conservadores, fazendo revolução com sua música. Bravíssimo!

Claro, depois de uma experiência tão edificante e de estar repetindo a mesma em casa com um bis, dessa vez com a Filarmônica de Viena, sob a regência do grande Leonard Bernstein, impossível seria resisitr aos devaneios da meia noite. Ah, esses diabinhos que ficam a pulular na minha mente, brincando com as minhas lembranças e sentimentos e me trazendo a tona aquilo que eu tenho de mais íntimo. Coisas da musica. 

Só me ratificando, essa alegria toda não vem só da música, apesar de ter sido o catalisador da mesma nessa noite. Mas também vem de um novo sentimento que tem crescido dentro de mim. Não vou adiantar muita coisa, só dizer que se trata de uma pessoa com quem comecei a ter contato muito recentemente e que, por algum motivo que ainda nãos e especificar qual é, me encantou. Aquela coisa de sempre: sorrisos, olhares... Algo de sereno e delicado que me atraiu a atenção, e que como o doce e sensível som do violino, me arrebatou a atenção, do olhar e do coração. Nada de concreto ou real por enquanto. Ou como diriam as postagens mais ácidas do Twitter: "ainda não nos beijamos, mas já trocamos emojis de coração no WhatsApp, então é sério." Ilusão da minha parte? Muito provavelmente. Vou continuar mergulhando de cabeça? Óbvio, minha função na vida é mergulhar de cabeça nessas coisas, fui enviado a este mundo pra isso. Mas só pra se ter uma ideia, já fico no pé, mandando mensaginha de bom dia/boa noite com riminhas fofinhas. Meu Jesus Misericordioso, eu preciso parar com isso!

Outro importante contribuinte pra minha súbita alteração de humor se deve a alvorada de algumas novas amizades e a reconquista de algumas antigas. Entre essas novas amizades, se inclui a pessoa de que falei acima. De fato, algumas pessoas tem a capacidade de trazer a superficie as nossas melhores carcterísticas que jazem adormecidas, empoeiradas pela fina camada do cotidiano. Essa nova amizade, e as outras duas que retornaram, tem sido pra mim um doce deleite, companhia nos momentos frios e difíceis e uma força motriz dos momentos alegres, muitas vezes movidos por brincadeiras bobas, mas que caracterizam uma verdadeira amizade, baseada na simplicidade e na sinceridade, e assim como Shakespeare, a essas pessoas eu digo quando me afasto: "Toda despedida é dor... tão doce todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia." 

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