sábado, 18 de junho de 2016

Infinita miséria, orgulhoso coração!

Noite pacata de sábado. Desde que terminei o namoro eu voltei aquela monotonia que há muito eu não experimentava. Foi um dia incrivelmente frio, e a única quebra na minha rotina foi um pequeno ensaio com a banda da igreja aqui em casa mais cedo. Com essa temperatura a vontade é de ficar na cama apenas o dia todo.

Já que hoje não houve nada de emocionante, começarei dizendo como foi o meu dia de ontem, haha. No último post eu disse que tinha sido assaltado, e que tinham levado meu celular e carteira, bom, fui dormir tristemente conformado. As 3h e pouca da manhã minha mãe me acorda desesperada com alguém dizendo ter achado meu celular. Acontece que a polícia conseguiu rastrear os bandidos indo atrás de um carro que eles também tinham roubado e conseguiram recuperar meu celular. Como o número de casa ta salvo na agenda, conseguiram contato. Então lá vai eu, as 3h da madrugada pra delegacia pra pegar meu celular de volta (sem sinal dos documentos). Fiquei lá até por volta de 6:30h da manhã e fui liberado. Com o celular de volta e muito sono por não ter dormido nem 1h direito na noite toda. 

Como se não bastasse, ainda fui pra Taguatinga, assistir uma apresentação de encerramento de semestre de um amigo no NUCSI - Núcleo de Simulações Internacionais. Cara, a apresentação deles foi sensacional, fizeram uma simulação do Conselho de Segurança da ONU de 1964. Curti pra caramba. Mas cheguei em casa umas 20h pra lá de quebrado, comi uma pizza e caí na cama, só acordei hoje, quase 11h da manhã. Mas eu consegui meu filho amado de volta <3 

Bom, procurando por inspiração pra esse post, navegando no bom e velho Google, eu acabei encontrando esse poema, usado numa lied do Schubert: 

O ATLAS
(Heinrich Heine)

Eu, desafortunado Atlas! Um mundo,
Todo um mundo de sofrimento devo carregar,
Carregar o incarregável, e no peito
Carrego um coração que quer se quebrar.

Ó, coração orgulhoso, bem tu o quisera!
Quisera felicidade, infinita felicidade!
Ou infinita miséria, orgulhoso coração,
Quisera tu! Agora és miserável.

Claro, nem preciso dizer que achei simplesmente um máximo. Ele faz referência ao personagem grego Atlas, que, condenado por Zeus, foi obrigado a sustentar o peso dos céus sob suas costas. 

Refletindo acerca das palavras desse poeta alemão do período romântico, eu imaginei Atlas como sendo um homem que, no auge de seu poder (quando os Titãs ainda detinham a soberania sob o mundo) fora orgulhoso de sim e provavelmente ambicioso em suas conquistas. Quanto então derrotado por Zeus e seus irmãos, e condenado ao seu castigo de sustentar o mundo, aprendera finalmente o que era humildade. Claro, não dá pra usar uma história que tem os deuses gregos, conhecidos por suas aventuras movidas por suas paixões mais tórridas, como parâmetro moral pra ninguém. Mas ainda assim, achei por bem parar e pensar um pouco sobre o poema.

Encontrei esse poema enquanto procurava alguma música para ouvir e sobre ela refletir. Obviamente não tenho repertório suficiente para falar sobre poemas, já que eu nao entendo patavinas sobre literatura, e correndo o risco de trasnformar isso aqui num blog sobre música, eu resolvi arriscar. Mas ai lembrei que é um blog sobre mim ("Viva Eu" By: London TipTon) e sobre o que eu penso, então... 

Na verdade, meu intuito era escrever sobre a 4° Sinfonia do Schubert, e foi buscando essa obra dele que acabei me deparando com o poema. Resolvi então fazer uma analogia ao aprendizado humado, pois esse tipo de reflexão tem ocupado bastante espaço na minha cabeça, ultimamente.

Quantas vezes então nós percebemos que na verdade não somos nada? Atlas era um Titã, um ser com poderes quase infinitos, mas foi condenado por Zeus a uma sentença perpétua, sem mais poder de ir contra essa decisão do que um humano comum. E aquele que outrora era poderoso e detinha poder em suas mãos, agora se encontra a mercê da vontade dos deuses. Assim também aconteceu comigo.

Sempre imaginativo, fantasioso, gosto de imagnar histórias em que eu sou na verdade um guerreiro corajoso ou um herói com grandes poderes, como uma criança de verdade, mas a partir do momento em que nos damos conta da realidade de que tem outra pessoa, não mais velha do que você, mas apontando uma arma na sua direção você se dá conta da sua inutilidade e incapacidade. Onde estava o guerreiro corajoso que venceu várias guerras com as mãos nuas? Onde está o herói que destruia prédios inteiros com a força de seus socos nos chão? Naquele momento não havia nenhum deles, só havia o Gabriel, o garoto franzino de 47 Kg que nada podia fazer na situação além de obedecer as ordens dos bandidos. Poderiam ter atirado em mim quando paralisei frente ao acontecido. Podiam ter feito algo com meus amigos. E eu não teria força pra reagir e muito menos como fugir. Ali sim, me dei conta da minha verdadeira pequenez. 

Não estou fazendo um drama bobo por ter sido assaltado. Pessoas são assaltadas diariamente e nem por isso deixam de viver suas vidas. Bem como também não vou reclamar da falta de policiamento no local, até porque foi essa mesma polícia que fez com que meu prejuízo fosse menor, horas mais tarde. Não sou do tipo que escreve textão por ter sofrido alguma violência, embora seja isso que eu esteja fazendo agora, mas a questão é, isso me despertou para minha soberba interior. Sempre carreguei comigo, ao ouvir as desgraças alheias, uma pose de "Isso nunca vai acontecer comigo", até que repentinamente, isso acontece comigo, e eu não tenho poder para fazer nada. Claro, a partir de agora é adotar uma postura mais precavida, como por exemplo, parar de andar com um celular tão grande quando sei que vou voltar a noite, e também evitar de ficar perambulando por ai sozinho, como eu faço frequentemente. 

Mas a principal conclusão que eu cheguei com essa experiência desagradável, é a aquela a que sou convidado em todo o Tempo Litúrgico da Quaresma, o de que "Tu és pó, e ao pó voltarás." (Gn 3, 19). É isso, no final da contas, não somos um pequeno grão de aréia na infinita imensidão do mundo. Existem pessoas mais novas que eu e mais perigosas do que um animal selvagem com raiva, e ainda mais selvagens que um, inclusive. A vida é assim, cabe a cada um de nós compreender a nossa finitude e reconhecer as nossas possibilidades, e assim como Atlas fez, aceitar a miséria de nossa pequenez.

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