quarta-feira, 1 de junho de 2016

Das cartas que nunca serão enviadas #1


Sei que isso pode parecer uma grande surpresa, ou não, mas eu achei melhor escrever de uma vez por todas o que está acontecendo comigo e esclarecer o meu comportamento dos último tempos para com você. 

Primeiramente, me desculpe por esse comportamento. Sei que você não me afastou com medo de me machucar, e agradeço imensamente por isso. 

Vamos então aos fatos:

Admito que quando conheci você, na escola, não dei muita atenção pois já estava envolvido em outro relacionamente, e um bem complicado, diga-se de passagem. Mas realmente notei o menino bonito e tímido de sorriso contido e cabelo preto... simplesmente um anjo de cabelos lisos. 

Meses depois, quando já tinha terminado, sua mãe se aproximou de mim e me falou da vontade que vc tinha de participar conosco da pastoral. Logo comecei a te colocar pra trabalhar. Não mérito da sua beleza o trabalho, faço isso com todos, mas te colocar sempre perto de mim, saiba que foi. Nada que você não tenha notado. Enfim.

De qualquer forma, o tempo que se seguiu depois de ter te conhecido foi muito conturbado e cuminou com minha partida, no meio do ano, apenas alguns meses depois de finalmente ter me aproximado.

Depois de minha mudança, admito que a sua distância foi uma das coisas que mais me machucaram durante aquela temporada. As poucas ocasiões em que te vi foram realmente um consolo, pois me apegara ao bom amigo que vc se tornara pra mim. Sim, até este momente eu tinha colocado na minha cabeça o propósito de não nutrir nenhum tipo de outro sentimento por você. Sua amizade me bastaria.

E bastou, mas não por muito tempo.

Os meses se seguiram. Voltei de férias. Pude rever você. Conversamos por uma manhã inteira. Foi tão bom, fiquei estranhamente contente por estar de voltar, ainda que temporariamente. Mas fiquei contente demais, mais até do que seria estritamente saudável para uma amizade que nem era tão longa assim.

Algumas coisas se sucederam. Comecei a namorar. Decidi ficar permamentemente. Você asisstiu eu me rejubilar de alegria e também assistiu eu me desmoronar ante o rompimento. Você estava lá, sempre ouvindo minhas baboseiras e aturando minhas asneiras e minhas cantadas sempre baratas. Enfim.

No término de tudo isso, eu me deparei com você. Mais uma vez minha carência fez todo o trabalho de imaginar uma situação que eu sabia que jamais aconteceria. Eu transferi pra você todos as angustias e anseios que meu (ex) namorado me privou. Você só foi uma vítima da minha paranóia. Como consequencie e pagamento pelo meu desvario, minhas mensagens se multiplicaram, você foi embora e passou a me ignorar (ao menos virtualmente) e eu logo abalei também por isso.

Tentei ainda, num súbito desespero, fazer você sentir minha falta. Uma tentativa que só teria sucesso se a outra pessoa correspondesse ao sentimento. E como disse, você só entrou nessa por ser meu amigo. Somente vítima, nada tem em relação aos meus problemas afetivos. 

Me encontro então na situação de estar simplesmente apaixonado por você. Usei sim um termo forte como esse pra mostrar o quando o problema é grande. Problema porque eu sei que meu sentimento não é e nem vai ser correspondido. Mesmo sendo puro e benevolente, os meus sentimentos são só meus e não encontram paradeiro nos seus braços. Não o culpo. Ainda que você seja gay, pode com toda a certeza conseguir coisa muito melhor do que eu, sendo bonito e simpático como é. Isso é o que mais me machuca. Saber que outro um dia pode ainda estar nos seus braços. Me desespera pensar isso na verdade.

Eu vou me esforçar pra superar isso, pra de fato, nutrir apenas uma amizade saudável por você. Ser apenas o bom amigo que você merece. Sem exageros e nem devaneios. Apenas isso. Me esforçarei pra acaber com essa paixão, com esse ardor que eu sinto cada vez que, mesmo estando no mais puro mal humor de um domingo de manhã. você me olha e sorrindo faz piada com alguma decisão idiota que temos de seguir e me faz rir. Mesmo quando eu tento ficar sério para que você entenda o quanto me machuca pensar em você. Mas sinceramente eu não espero que você entenda, não deve ter ideia do quão forte é isso que eu alimento dentro do meu peito.

Pois bem, que seja. Imagine que você finalmente se dê conta de que precisa do ar para viver. Geralmente só notamos a importância de algo quando a perdemos. Então, num momento de asfixia, você percebe que o ar que menosprezou a vida inteira, é agora a única coisa que pode impedir que a sua visão se turve por causa da morte. Assim é como eu me sinto quando te vejo. Claro, tento não rir como o bobo que gostaria perto de você, nem sempre consigo, mas admito que no meu interior, eu pulo e grito de alegria quando te vejo.

Voltando. Eu escrevi essa carta atrapalhada justamente pra tentar esclarecer o que se passa comigo em relação a você. Espero realmente que me perdoe, e que aceite ainda pensar em mim como seu amigo. Pois se não o posso ter como meu namorado, não quero ter de me afastar de alguém tão importante assim pra mim.

Tudo voltará a ser como era antes.

Prometo.

Seu amigo, Gabriel.


~


Obs.: Mais cedo me surgiu essa ideia de escrever cartas e dizer o que eu sempre tive vontade de dizer, mas nunca tive coragem. Essa é então a primeira de uma série de 3. As proximas serão para meu ex e para o outro que me despertou sentimentos. Não coloquei nomes, além do meu, mas quem sabe, se por uma ironia do destino algum deles chegar a ler isso, possamos esclarecer de uma vez por todas as situações pendentes...

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