quarta-feira, 29 de junho de 2016

Apenas um cara no caminho...#3

Eu não tenho muita idade, mas já vivi por 21 anos, são duas décadas e mais um pouco. E quanta coisa podemos ver que mudou de um tempo pra cá. Imagine só nesse tempo todo. Da mesma forma como o mundo continua em constantes transformações, eu gosto de pensar que eu também me encontro numa permanente metamorfose. Não quero usar a palavra evolução, porque ela me dá a impressão de uma escala linear de superação e um fim, um objetivo final: a perfeição. E eu sei que não caminho rumo a perfeição, não no sentido humano da palavra, até porque os homens não se decidiram ainda o que é um homem perfeito. Não, eu costumo pensar apenas que estou numa constante transformação, as vezes progredindo aqui e ali, as vezes regredindo, as vezes estagnado. Mas numa constante. 

As coisas que antes me faziam o garoto mais feliz do mundo hoje já não tem qualquer significado pra mim. Outras no entanto continuam a me acompanhar, e outras eu apenas guardo no coração, pois são todas essas coisas que fizeram ser quem eu sou hoje. Imperfeito, falho, miserável, mais eu mesmo. E afinal de contas, quem sou? Sou apenas um cara no caminho... 

Meu corpo, minha aparência, minhas opiniões? Não definem quem eu sou. Nem meu nome, nem ser reconhecido pelos outros. O que define a minha existência é a minha essência. Essa essência é formada pelo conjunto de todas essas coisas, meu corpo, minhas opiniões e meu nome, e tudo isso junto, num conjunto, forma um todo, a totalidade da minha existência. E a totalidade da minha existência é ainda muito imperfeita para abarcar a totalidade de toda existência. Minha consciência me limita, minha inteligência me classifica, minhas característicam possibilitam aos outros formarem um juízo sobre mim. Mas esse juízo é muito limitado, contempla apenas uma fração da minha existência, juntando alguns fragmentos de minhas opiniões e experiências. E o juízo formado pelos outros não define quem eu sou, pois da mesma forma que a totalidade da minha existência é limitada pela minhas consciência, a minha consciência é também a responsável por limitar meu alcance a outras existências. Mas esse sistema, assim como o homem, possui falhas. Ou melhor, brechas. E por essas brechas, a minhas consciência pode lentamente deslizar para dentro de outras existências, fazendo assim que, num breve momento, eu possa tocar até certo ponto o local mais profundo do meu próximo.

Ao conjunto desses breves momentos onde temos acesso ao mais profundo do próximo, demos o nome de Amizade. Mas o que é a amizade? A amizade é a companhia, é o desnudar da alma a um completo estranho que depois de um tempo se torna nosso ente mais próximo, superando laços de sangue, e nos dando acesso indiscriminado as outras existências. A verdadeira amizade portanto é aquela onde não há segredos e nem temores, mas também não é aquela inabalável, mas sim aquela que consegue unir a foça de ambas as consciências numa coisa maior, gerando assim uma existência nova e ainda mais poderosa. 

Claro, nem tudo é perfeito e por vezes os laços formados entre as pessoas se rompem e perdemos o acesso ao seu interior, mas o fato de esse laço um dia ter existido, significa que a vida tem sido vivida. 

Não raramente a vida nos surpreende com amizades que surgem repentinamente. Não acho que deveríamos menosprezar essas amizades. Ora, um amigo de 10 anos não está imune a uma traição, assim como um amigo de pouco mais de um mês pode sim estar disposto a arriscar a vida pelo amigo. Tudo depende da força das conexões formadas. Algumas pessoas levam anos pra consegui-las, enquanto outras as constroem com facilidade. A essas almas leves, que rapidamente descobrem o véu de suas mentes e corações ao próximo é dada uma espada de dois gumes. O primeiro é o constante risco da decepção, e o segundo, o gume da consolação. Quem faz amigos com facilidade não fica sozinho, é bem querido por todos e conquista o afeto do próximo tanto na alegria quanto na aflição.

Bom mesmo é deparar-se com uma dessas almas leves. Que se entregam a beleza de uma amizade pura sem muitos escrúpulo. Que não teme em abrir o coração e nem se recusam a receber o afeto que sai do nosso. Bom é fazer um amigo que te deixe com um sorriso bobo como se tivesse apaixonado. Bom mesmo é se identificar com uma pessoa que mesmo a distância consegue te fazer bem. Bom mesmo é querer o bem dessa pessoa.

Por fim, acredito que essa é uma das belezas mais sublimes da vida: a amizade simples, fácil e desinteressada, que aquece o coração e traz sossego e paz à alma. 

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