sexta-feira, 24 de junho de 2016

Se a vida te dá um limão... ouça duas sinfonias de Mahler!


Eita, finalmente de volta a vida... Fiquei uns dias distante, principalmente devido ao fato de só agora estar recuperado de uma baita crise respiratória. 

Pense numa pessoa que acordou abalada fui eu. Sonhei com um, acordei pensando em outro, no WhatsApp, recebi bom dia de outro. Aff, assim não dá. To indo pras montanhas, lá não deve ter ninguém pra eu me apaixonar. Ai eu vou pra montanha e me apaixono pelo guia. Triste. A essa hora o destino deve me olhando com cara de quem diz: "Larga de ser burro". 

Difícil de imaginar essa possibilidade. Mas, vida que segue né?

Ontem eu tive uma surpresa até agradável. Enquanto ouvia algumas músicas que tinha baixado, eu me deparei co um CD muito delicinha, trata-se do album "Les Fils des Etoiles" do Erik Satie. Apesar de sempre ter admirado o piano, poucas são as composições pra piano que eu gosto realmente. Me recordo aqui apenas a Sonata pra Piano N° 16 do Schubert e a Sonata pra Dois Pianos N° 8 do Mozart, bem como alguns excertos pra piano, como Petrouchka e The Flight of the Bumblebee, do Istravinsky e do Rimsky-Korsakov, respectivamente. Mas esse CD, cara, que coisa fantástica. Pra mim, o piano sempre foi o instrumento romântico, apaixonado, aind anão tinha experimentando ele em obras dão solitárias e frias. Simplesmente delicioso. Satie tem alguma coisa de depressivo, solitário, que eu adoro. Como disse, foi uma ótima surpresa. Sinal de que ainda tenho muito que expandir no quesito repertório. 

Acabei de assistir um filme muito bom também, Mr Idol, e antes de mais nada, gostaria de deixar bem claro aqui a minha chateação com o fato de o personagem principal, interpretado pelo gatíssimo Ji Hyun Woo, só é mostrado sem camisa nas divulgações, mas sempre aparece vestido no filme. Não gostei, faz de novo.

Tirando isso, eu gostei muito, a começar da Trilha Sonora Original, que é excelente, e que aliás, eu já baixei e to ouvindo aqui. E a história tbm é muito boa. Segue o bom padrão musical: um problema, um cantor talentoso que pode salvar o show, depois ele estraga tudo e não tem mais show e do nada ele concerta tudo e acontece o show. Mas é gostosinho de assistir. Além disso, a fotografia é muito boa e detalhe pras cenas pra lá de divertidas que eles usaram pra diminuir o drama que permeava o problema inicial do filme. Bem criativo. Achei que alguns personagens podiam ser melhor desenvolvidos, mas não me incomodou de verdade.

Ando com a criatividade escassa ultimamente, exceto no que se refere a escrever sobre música, e provavelmente vou fazer isso de novo a noite. Porque se tá dando certo, vamo aproveitar né? Em time que tá ganhando nãos e mexe. Se a vida te dá um limão... esprema ele na sua cara, pra nunca se esquecer o quanto a vida é azeda.

E a noite cai, e com ela a bad... ainda não escolhi qual vai ser a minha obra de hoje, mas eu to muito inclinado a ouvir a sétima do Mahler. Até porque eu ia falar dela no dia que ouvi a 5°, mas acabei mudando de ideia sabe-se lá o porque. Até lá, fico pensando sobre esse pensamento que achei vagando no Tumblr:

"Não é estranho quando no meio da noite você acorda, vira para o lado e não consegue voltar a dormir e então pensa em tudo o que você é e na vontade gigante de achar alguém que te entenda e talvez até seja parecido contigo?" (Sonhavam)

Pois bem, meu probleminha de sempre, não desconhecido de ninguém. Acho que venho me tornando uma pessoa bem pessimista e amarga, e claro, isso não tem um efeito positivo pra reverter a situação que me deixou assim. Infelizmente, acho que essa "capa de gelo", por assim dizer, é na verdade uma forma de proteção desenvolvida, pra evitar que o sofrimento se repita. No entanto, como era de se esperar, esse gelo só fez com que eu mesmo me machucasse ainda mais, porque agora, além de ferido, ainda estou sozinho. E ao pensar sobre isso, eu fico me questionando, será que é realmente tão difícil assim, encontrar alguém?

Então, sobre a audição da Sinfonia n.º 7 em Si Menor do Mahler:

As ruas estão vazias, poucas pessoas se atrevem a andar a essa hora da noite e um clima de tensão é sentido por todos. Alguns bêbados brincam e gritam ao longe, mas até as suas brincadeiras são abafadas pelo vento que vem carregado por uma aura de morte iminente. As poucas pessoas que sobram na ruam correm para suas casas. Algo de muito ruim vem por aí. Será uma vila dessas do interior, onde as pessoas acreditam em mitos como os da besta que ataca os habitantes desprevenidos nas noites de lua cheia? Ou será a notícia de uma maníaco a solta pela cidade faz com que até os homens corram de medo ao bater de uma brisa mais forte?

A lua brilha forte e amarela no céu, muitas e muitas estrelas ao seu redor, e a aura de mistério, suspense e perigo se reforça a medida que a noite cai. Apenas um tolo corajoso se atreve a contemplar a baelza da grande Lua nessa noite maldita. É certo que alguém vai morrer, e o cheiro oxidado do sangue já domina o ar. Esse homem corajoso na verdade anseia pela própria morte, desesperado em por um fim sua vida ele corre ao encontro dessa fera maldita. Corre por todos os cantos da cidade e ao fim dela, cansado, cai de joelhos ofegante em frente a um bosque tenebroso. Lágrimas escorrem freneticamente por sua face rosada. Suas roupas molhadas de suor e sujas do longo dia de trabalho estão puídas, um reflexo exterior do seu interior devastado pela solidão. Mas embora carregue essa aura assasina, a noite lhe faz um doce convite a contemplação. Não quer a sua morte, quer apenas o seu coração. E como o coração do jovem de cabelos dourados e enrolados como os de um anjo já não tem mais dono, ele o entrega a Lua de bom grado, e a sua luz dourada vai passando por ele, o penetrando de uma força descomunal, ao mesmo tempo que uma calma atinge seu corpo. O jovem então cai, fora de si, dominado pela estranha dorça que vem da lua.

Essa mesma Lua, canta para ele uma canção sedutora. O seduz como uma sereia faz aos viajantes, e o dominando por completo, toma para si todos os sentidos do jovem. Ele encontra o que procurou, sua vida já não lhe pertence mais. É agora da noite, e tudo o que ele pode ouvir agora são as muitas criaturas que pululam na noite, e que agora lhe fazem companhia longe da cidade onde não conseguira encontrar amor. Ele ainda está na cidade, não saira dos limites desta, mas não está mais ali, sua mente vaga na lua, vaga acima das pessoas que agora dormem em suas camas quentinhas e suas casas seguras. Ele não mais pertence a essa classe de pessoas fracas e mortais.

A aura de suspense se mantem numa canção da noite onde, o jovem agora transcedental, observa cuidadosamente a vida das pessoas que um dia ignoraram sua existência. Ele agora, acima dessas pessoas, observa cautelosamente o coração de cada uma delas na tentativa de descobrir porque seu amor não fora aceito pelos demais. Uma senhora cozinha para os seus filhos, com uma expressão cansada, mais satisfeita, enquanto as crianças brincam alegremente na neve fora de casa. Os homens voltam de uma tarde buscando lenha para aquecer suas famílias, todos cansados e sujos, mas sorridentes enquanto conversam e brincam entre si. Outros passam o dia em casa, trabalhando com papéis intermináveis, e então ele o encontra: o jovem de pela dourada, cabelos cor de mel e olhos frios com água e que negaram o seu amor. Esse belo rapaz tivera o coração de nosso filho da lua em suas mãos e o recusara. O filho da lua se detém então demoradamente a sua janela, enquanto observa o seu amado.

Ele então começa a conseguir penetrar fundo no âmago do coração de seu amado, e começa então a investigar dos motivos que resultaram na sua negação. Seus sentimentos também são numerosos, mas todos são mais simples de se compreender. O jovem de olhos frios na verdade ama a uma mulher, para quem seus olhos se esquentam como fogo, ao contrário do gélido azul. Nosso filho da lua consegue entender agora, que nunca teve sequer algum sentimento por ele. Tudo fora culpa sua, todo seu sofrimento fora um inútil padecimento de dor, e agora, sua alma vaga solitária pela cidade, onde já foram dormir novamente, e em direção a lua ele parte em uma solitária jornada em busca de algo que ele ainda não sabe o que é. Está a procura de entender alguma coisa, mas ainda não consegue conceber que coisa seria está.

Estou divagando de tal maneira que não sei mais se falo da música de Mahler ou se apenas tento encontrar uma forma poética de dizer o que estou sentindo.

Já longe da cidade, nosso jovem se encontra vagando etéreo sob lugar nenhum. Ao longe ainda pode sentir as luzes da cidade do seu amado, muito embora já tenha se distanciado se tal forma que não pdoeria voltar mesmo se quisesse. Sua alma agora se desfazia, juntamente com seu corpo que há muito deixar de existir. Depois de ter-se desprendido de seu corpo, o escudo de sua consciência que mantinha a forma de sua existência continuara existindo. Mas agora, adquirido o conhecimento da impossibilidade de ser amado da forma como amara, ele se desprende dessa existência imperfeita. Ele se desfaz de seu escudo e corajosamente começa a tornar-se um com o tudo. Dando-se conta de sua inutilidade, compreendendo ser um nada, ele estica sua existência para abarcar o tudo.Começa a sentir então assim, a dor do coração dos outros, e atpe mesmo a dor do coração do homem que ele tanto amou, mas numa aridez que ele não achou um dia ser capaz de sentir.

Penso eu que aqui, a obra de Mahler tenha alcançado o ápice de desespero em sua obra. Já não mais pensa como os meros mortais, e, assim como o filho da lua agora abarca a totalidade da existência, ele já não se expressa com os mesmos sentimentos que os meros mortais tem. Agora ele transcende sob esssa existência imperfeit, pairando como a lua, sob as nossas cabeças. Até aqui, no 3° movimento, consigo apenas sentir essa transcedência magnífica de Mahler sobre os afetos da alma humana.

É o ultimo passo para a trasncedência final do filho da lua. Um último estágio de desintegração de sua alma que deve se desprender para alcançar a totalidade da existência. É o momento de desapegar-se de suas lembranças, uma vez que já desapegara-se de seu corpo. Com um certo desconforto então, ele se recorda dos momentos felizes que passou ao lado do seu amado. Das brincadeiras que faziam quando estes eram apenas amigas. Mas a lua não permite que seu filho se machuque longamente em suas lembranças, e o envolvendo numa nuvem de torpor, permite que ele apenas assista, calmamente, ao seu passado ao lado do jovem de olhos frios e quentes. Passado que o levou a desejar a lua que lhe desse a existência sem dor que agora ele lentamente alcançava.

Essa do destino é mesmo uma droga não? Acabo de receber uma notícia triste pela boca de um amigo. Aquele mesmo que um dia fora o que se pode chamar de melhor amigo. Se é que tal coisa existe; Mas assim como o filho da lua, essa noite já não me permite mais sentir dor. O torpor impede que eu morra de tanto senti-la.

Chegamos então ao final da trancedentalização da alma do filho da lua. O ápice de sua existência. Ele não mais paira funebremente sob as casas como uma fantasma, mas agora, como a luz da lua, contempla a totalidade da existência e portanto, consegue sentir dentro de si, uma mescla de sentimentos contraditórios. Trata-se dos sentimentos de todas as pessoas que vivem sob o mundo. Como a lua é agora um mero espectador da miséria humana. Assiste ao seu amado morrer de amor pela jovem que nunca poderá sentir por ele o que o filho da lua um dia sentira. Assiste as pessoas se amarem e se matarem. Assiste aos loucos enamorados. Assiste aqueles que abandonam seus amigos para viverem grandes amores. Ele contempla a tudo isso agora, e logo vai adentrar também em um último estágio: o da onisciência. Onde se fará um só com a totalidade da existência, não mais um espectador da mesma. E assim, chega ao fim uma existência solitária, que se tornou uma existência perfeita.

E passando logo para a Sinfonia N° 8 em Eb, essa que é uma das obras mais magníficas que alguém já ousou compor, e também uma das mais incompreendidas, ao meu ver. Penso que essa seja a continuação da sinfonia anterior, ao menos na minha mentalidade de hoje, e que talvez a consolidação da existência perfeita da Canção da Noite, seja a visão beatífica que a N° 8 do Mahler nos traz.

"A estrutura da obra não é convencional; em vez de seguir a estrutura normal em vários movimentos, a obra está dividida em duas partes. A primeira parte é baseada no texto latino de um hino cristão escrito no século IX por Rabano Mauro para as festividades do Pentecostes, Veni Creator Spiritus («Vem, Espírito Criador») e a segunda parte é um arranjo das palavras da cena final do Fausto de Goethe. As duas partes estão unidas por uma ideia comum, a da redenção através do poder do amor, unidade transmitida mediante temas musicais comuns. A obra é vocal de uma ponta à outra, sendo a introdução do segundo andamento a única passagem puramente instrumental. Não é uma sinfonia com solistas e coros, mas sim uma sinfonia para solistas, coros e orquestra. Mahler estava, desde o princípio, convencido da importância da obra, ao renunciar ao pessimismo que tinha marcado grande parte da sua música, oferecendo a Oitava como expressão de confiança no eterno espírito humano."

Então essas são as palavras que melhor definem a Sinfonia dos Mil, Amor e redenção. Será que o filho da Lua perdoará o seu amado de olhos frios? Será que agora, abarcando a totalidade da existência, ele conseguirá um destino para o amor que tanto lhe sufocou?

A obra começa de uma maneira assustadoramente magnífica. A força da orquestra e do coro são algo raro de se ver. Subitamente somos trasnportados a um mundo completamente novo, como se fôssemos arrebtados ao céu e agora contemplássemos não mais as existências pueris e débeis dos homens, mas sim as faces angélicas dos anjos e santos, uma multidão que, a perder de vista cantam seus louvores ao criador. Assim que termina o tema inicial e vemos a entrada dos solistas, já nos esquecemos completamente de toda e qualquer tristeza que a vida anterior poderia ter nos ofertado. Aqui vemos pessoas que não viveram em vão pelo amor não correspondido de um tolo, mas apenas que viveram para aquele que realmente merecia ser amado.

De joelhos, o filho do homem cai então, ciente mais uma vez do erro de toda sua vida. Vivera pelo amor errado todo esse tempo. O coro aqui da uma sensação de totalidade, é a totalidade da existência. A instrumentalidade humana. O amor de Deus. Não importa o nome que receba, é assim que deve ser a existência verdadeira.

Aqui, a aura do pessimismo da existência humana já se foi. Nada dela restou, e até a brilhante luz da lua, que o levou ali, serve para dar o seu louvor. É o louvor da criaturas, o louvor aquele que dá a vida a todas as coisas, o louvor aquele que é amor mas não é amado. Apenas resquicios do sentimento pelo rapaz dos olhos frios sobreviveram, mas ele sente que é esse sentimento que deverá pesar-lhe sob a balança de seu julgamento, e é para esse julgamento que ele se encaminha.

Enquanto caminha ao lugar do julgamento, a grande sala do trono, ele consegue lembra-se do quanto dedicou de sua vida aquele que nem sequer fazia questão de seu sentimento. Uma dor dilacerante toma conta de si, parece que o julgamento deverá anteceder o último estágio para alcançar a onisciência. O que lhe espera ao final? A dor eterna? Ou o livramento desse sentimento, outrora belo e puro, que agora somente lhe pesa o coração? Aqui, onde tudo será julgado, ele retorna a sentir o que sentiu quando humano, antes de ser adotado como filho da lua, e mais uma vez, contemplando a sua pequenez, seu futuro será decidido. Será decidido se ele merecerá a visão beatífica ou a condenação eterna, por ter amado mais a um homem do que a seu Senhor.

A minha compreensão dessa 1° parte da sinfonia, tem sua completude na grandeza do céu, donde a alma do filhod a lua será julgada. Ele então sente o que de fato é a grandeza de Deus, e percebe que, mesmo quando abarcara a totalidade da existência, ainda não abarcara a totalidade de Deus e que só depois de ser ou não aceito por Deus, é que ele poderia conseguir um nível de iluminação verdadeiramente grandioso.

A 2° parte da sinfonia canta a cena final de Fausto de Goethe.  Mas como tal na minha interpretação, ouso substituir Fausto pelo filho da lua.

O longo prelúdio orquestral (cento e sessenta e seis compassos) está em mi bemol menor e, à manera de uma abertura operística, anticipa alguns dos temas que se escucharán mais adelante no movimento. A exposição se inicia quase em silêncio, representando uma montanha rochosa e arborizada, morada de varios anacoretas cujos sons se escuchan num coro destinado a criar uma ténue atmósfera completada com sussurros e ecos. Um solene solo de barítono, a voz do Pater Ecstaticus, finaliza calorosamente para dar lugar a uma modulação para modo maior quando os trompetes tocam o tema «Accende» da Parte I. Depois, segue a exigente e dramática ária do baixo, a voz do Pater Profundis, que finaliza a sua atormentada meditação suplicando a misericórdia de Deus em seus pensamentos. Os acordes que se repetem nesta secção recordam Parsifal de Richard Wagner.

A atmosfera fica aligeirada com a entrada dos anjos e das crianças bem-aventuradas (coros de mulheres e crianças) que levam a alma de Fausto; a música aqui é talvez uma relíquia do Scherzo sobre os «Jogos de Natal» previstos no antigo esboço da sinfonia em quatro movimentos. O ambiente é festivo, com gritos triunfais de «Jauchzet auf!» («Alegrai-vos!») finalizando a exposição com um poslúdio que remete para a música «Infirma nostri corporis» da Parte I.

A primeira fase do desenvolvimento começa quando o coro de mulheres dos anjos jovens invocam a «feliz companhia das crianças bem-aventuradas» que devem levar para o céu a alma de Fausto. As crianças bem-aventuradas recebem a alma com alegria; as suas vozes unem-se à do Doctor Marianus (tenor), que acompanha o seu coro antes de romper num arrebatado hino em mi maior dirigido à Mater Gloriosa, «a rainha do céu!». Quando a ária termina, as vozes masculinas do coro fazem eco das palavras do solista num fundo orquestral de tremolo de viola, uma passagem qualificada por De La Grange como «emocionalmente irresistível».

Na segunda parte do desenvolvimento, a entrada da Mater Gloriosa é marcada com um acorde sustenido em mi maior do harmónio, com arpejos das harpas tocados sobre uma melodia de violino em pianissimo que De La Grange apelida como «tema do amor». Depois, há contínuas modulações enquanto o coro de mulheres penitentes solicita audiência à Mater, seguido pelas súplicas em solo de Magna Peccatrix, Mulier Samaritana e Maria Aegyptiaca. Nestas árias o «tema do amor» desenvolve-se ainda mais e o «tema do Scherzo» associado com a primeira aparição dos anjos volta a ser escutado. Ambos os motivos predominam no trio que continua com a petição à Mater de uma quarta penitente, a amante de Fausto antes conhecida como Margarida, que veio fazer a sua súplica pela alma de Fausto. Após o pedido, um solo de «límpida beleza» segundo palavras de Kennedy, abate-se uma atmosfera de reverência silenciosa. A Mater Gloriosa canta então as suas duas únicas linhas, na tonalidade principal da sinfonia de mi bemol maior, permitindo a Margarida dirigir a alma de Fausto para o céu.

O último desenvolvimento episódico é um solo de estilo em hino do tenor e do coro, no qual o Doctor Marianus chama as penitentes a «levantar o olhado». Continua com uma curta passagem orquestral, orquestrado para um estrafalario grupo de câmara formado por flautim, flauta, armonio, celesta, piano, harpas e um quarteto de cordas.Esto serve de transição para preparar o final, o Chorus Mysticus, que começa em mi bemol maior de maneira quase impercetível, o que Mahler escreve com a seguinte notação Wie ein Hauch, «como um sopro». O som aumenta gradualmente num crescendo, enquanto as vozes solistas se une, ou contrasta, com os coros. Quando o clímax se aproxima, muitos temas são repetidos: o «tema do amor», a canção de Margarida, o «Accende» da Parte I. Finalmente, enquanto o coro conclui com «A feminidade eterna nos levará para o céu», a secção de metais situada fora de cena reaparece com um último tributo ao motivo Veni Creator, para acabar a sinfonia com uma triunfante fanfarra.

Optei por copiar o texto da última parte da sinfonia por vários motivos. Primeiramente não foi por preguiça de escrever, mas por que me encontro num estado emocional já tão abalado que não conseguia mais escrever. Essa última interpretação deve ter soado extremamente vazia e forçada, coisa que de fato eu acredito que tenha sido. Mas como disse, cheguei a um nível tão profundo de tristeza que nada mais é capaz de sair de mim em forma de palavras. Somente consigo sentir, e nisso a obra de mahler tem em servido muitíssimo bem. Acredito que eu tenha atingido tal estado de compreensão que já não consiga mais descrever em palavras por tal feito não ser mais capaz pra mim. E outra, a descrição que achei não só me soou melhor do que qualquer outra que poderia escrever em tal estado, que achei melhor deixar ela dizer o que eu tentei e não fui capaz de fazer.

O fato ocorrido foi que, me senti muito mal quando, mais cedo, vi uma postagem no Facebook, onde um de meus amados reclamava de um amor não correspondido. Por algum motivo eu ainda comentei. Mas ai recebi então o doloroso insight onde compreendi que nem mesmo a minha amizade tinha algum valor ou significado para ele. Não havia sobrado nada mais do nós que um dia existira. Ele seguira em frente. Estava preocupado e ocupado com o seu próprio amor. Preocupado demais para se preocupar com seu antigo devaneio, o devaneio que ele fugira por temor.

O segundo fato veio horas mais tarde, quando recebi a notícia triste de meu amigo. Nem tanto pela notícia, mas pela forma como ela foi dada. Estranho pra mim ver que agora sou um quase estranho para aquele que um dia eu desnudei a minha alma.

Me encontro agora num emaranhado de sentimentos. Um vórtice de dor e torpor que se revezam em desferir golpes poderosos na minha alma e no meu coração. Uma mescla de amor e desespero, solidão e auto-compaixão, que me rodeiam em tons de roxo e ocre, se opondo a uma densa escuridão.

Só espero que, assim como a Sinfonia dos Mil termina de forma triunfal, um dia eu também possa dizer bem aqui, que eu também venci, de forma triunfal!
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Os textos em itálico foram retirados daqui.

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