segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A Contemplar

Eu pensei que hoje choveria. Passei a tarde observando o céu azul acinzentar-se pela janela do meu quarto, esperando que as lágrimas pesadas das nuvens caíssem sobre mim. Enquanto observava percebi que o céu de minha cidade não era o único que tornara-se cinza. Cheguei a conclusão que também o céu do meu ser tornou-se sem vida como o céu de chuva.

Mas eu sei que o cinza não é o fim, e não me refiro ao fim da tempestade, em que o azul voltará a imperar por sobre as nossas cabeças, oh não... Me refiro a água das chuvas que molhando a terra traz a vida. É irônico o céu sem vida nos trazer a vida, e pode ser que exista uma boa comparação com o céu do meu ser... Talvez tenha sido me dado a honra de perceber a ligação entre o cinza do céu, e o meu coração.

Vejo o dia de hoje como uma conversa encorajadora, com um amigo silencioso, que me leva a crer que devo continuar a lutar, ou ao menos continuar a contemplar, pois já não encontro razão no viver senão no contemplar o belo. 

Frente aos meus olhos os dias passam, fugazmente, e as pessoas passam, uma a uma, entrando e saindo de minha vida como as folhas caem de uma árvore para brotar novamente na estação seguinte, com o perdão da comparação infantil. 

Frente aos meus olhos os dias nascem, e a negritude da noite se dissolve no amarelo da manhã, que logo dá lugar ao azul delicado e quente que o sol a pino nos dá. O azul é cruelmente cortado por um laranja poderoso, que por fim termina num grosso véu estrelado da noite, para no dia seguinte dissolver-se novamente no amarelo. E esse ciclo mantém-se inalterável, não importando o que os homens façam, mostrando que o todo ainda é esmagadoramente maior que o um, ainda que o um seja mais numeroso. 

Não encontro mais razão no lutar, mas encontro alento no contemplar a vida pela minha janela, e enquanto a beleza do mundo ainda me encantar não pensarei em outra coisa que não seja contemplar. 

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