domingo, 1 de outubro de 2017

Nossa vontade

Podemos começar a refletir sobre a liturgia deste 26° Domingo do Tempo Comum com a exortação que São Paulo faz em sua carta aos Filipenses:

"Tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus." (Fl 2, 2-5)

Temos hoje a infelicidade de viver numa Igreja dividida, partidária. Cada qual vivendo conforme suas próprias opiniões. A Igreja de hoje não é menos cismática que a de seiscentos ou mil anos. Continuamos a mercê de falsas doutrinas e continuamos vivendo conformo aquilo que queremos e não como Jesus nos pede.

A Igreja de hoje ainda não segue o conselho do Apóstolo, mas antes, continua competindo entre si e vangloriando-se daquilo que (mal) faz. Não percebemos que muitas das vezes já abandonamos o Evangelho de Cristo e a Igreja de Cristo para viver apenas conforme nossa própria Igreja. Em nossos corações formulamos nossos próprios ensinamentos e preceitos e seguindo aquilo que queremos e nada mais, acreditamos viver aquilo que Cristo nos ordenou. Nem de longe temos em nós o mesmo sentimento que existe em Cristo. 

Basta um olhar superficial para perceber o quanto estamos divididos, o quanto competimos para descobrir quem está certo, e exigimos ainda o direito de dobrar o outro sob a força de nossa vontade. Vejo hoje a briga horrenda entre progressistas e conservadores; liberais e moderados; tradicionalistas e pentecostais, todos e cada um defendendo com unhas e dentes aquilo que acredita ser a Igreja de Deus, mas ao mesmo tempo em que cada um tem consigo algo de bom perde o essencial: a comunhão com Deus e os irmãos. 

Os tradicionais acusam os pentecostais de serem protestantes, mas ora, se estes discordam de toda e qualquer palavra que não seja exatamente a que eles esperam que seja dita por um papa, padre ou bispo, são tão ou mais protestantes que aqueles que eles acusam. 

Isso porque não querem viver sob a comunhão de uma mesma Igreja, e por isso não lutam pela aceitação, mas lutam pelo puro prazer de verem o sangue daqueles que deles discordam ser derramados. Não desejam a conversão daqueles que não compreendem como eles a beleza da tradição, mas antes desejam que sejam expurgados. Com efeito, a Igreja deixaria de existir no exato momento em que todas as suas vontades fossem atingidas. 

Essa divisão nos entristece, nos mostra o quanto fracos somos e o quanto somos pequenos diante do mundo. É por isso que nós cristãos ainda não dominamos o mundo, pois estamos dispersos, e divididos somos conquistados, ao invés de dividir. 

Vemos a desunião nos levar ao desespero, que por sua vez nos conduz ao abandono da Fé.

“Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”. (Mt 21 31-32)

Será que de fato cremos no Senhor? Nos arrependemos de nossos pecados verdadeiramente? Ou será que estamos acreditando no deus que criamos, nossa vontade, e nos arrependendo apenas daquelas coisas que queremos? 

A verdadeira conversão exige abandono de si, da própria vontade, é ir trabalhar na vinha do Senhor mesmo quando não queremos, isso é abandonar a si mesmo, arrepender-se verdadeiramente. 

Embora tenha sua celebração precedida pelo Dia do Senhor, hoje ainda é dia de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, virgem e doutora da Igreja, uma dentre os muitos santos que dedicaram suas vidas a esvaziarem-se a si mesmos e conformarem sua vontade a vontade do pai. Exemplo de grandiosa santidade, alcançada por meio da penitência que é abandonar as próprias vontades e curvar-se a vontade do Pai. 

Como são belas aos nossos olhos as vidas daqueles que souberam amar Cristo e aos seus irmãos. O brilho de suas vida aquecem e fazem vibrar nossos corações, e fazem também nos prostrarmos de vergonha, ante tamanha grandiosidade. Nós queremos as flores mas não os espinhos, eles desejam amar os espinhos para não se incomodarem com eles quando vierem as flores... Por isso deveríamos compreender que estes sim são os verdadeiros exemplos a serem seguidos, e a garantia de uma vida espiritual segura, e não a nossa própria consciência, tão curvada pelo peso do pecado. 

Que inspirados por seu testemunho possamos também nós confiar nossas vidas a misericórdia de Deus e cada dia mais buscar o esvaziamento de nós, e viver não conforme dita nossas vontades, de forma dividida e imperfeita, mas antes, buscando a união e a perfeição primeira que é Deus!

Para tanto, unamos-nos ao salmista, que busca fazer a vontade de Deus e digamos:

"Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação; em vós espero, ó Senhor, todos os dias!" (Sl 24)

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