sábado, 7 de outubro de 2017

O que me restou

Agora o tempo se cumpriu, minha sentença começou! As folhas das grandes arvores estão ao chão, em seus corpos apenas a tristeza da desnuda verdade imutável. O bater dos sinos dos grandes templos já não se ouvem mais. Calaram suas preces e não mais anunciam as vozes de seus deuses, evocam apenas a triste aurora dos mortos.

O que eles nos ensinam? Que toda glória é passageira! 

Toda glória nesse mundo é tão fugaz quando a vida de uma fincuda. E a minha vida agora repousa vergonhosamente nos versos de um díptico, ceifada pelo inimigo que me obrigou a enrolar em meu próprio pescoço a corda que me prenderia a guilhotina da lamina fria do destino. O aço frio que me decepou a vida foram as palavras cruéis que, mesmo sabendo que um dia as ouviria, acreditava que nunca chegariam...

Mas chegaram.

Dizem que o guerreiro mais astuto é o que faz com que se inimigo se derrote, sem que para isso tenha de sujar suas mãos. O inimigo mais inteligente é o que derrota o seu rival sem derramar seu sangue, mas o torna incapaz de voltar a batalha. Durante essa vida há inimigos astutos o suficiente para disfarçarem como coelhos delicados, quando escondem uma fera mortal em suas entranhas.

Meu inimigo tornou meus aliados contra mim. Fez de meu amor e de minha preocupação as foices que cortariam minha jugular espalhando o sangue envergonhado de meu afeto pelo chão imundo de seu palácio. 

A mim restou a sobra. 

O resto. 

Aquela parcela dispensável da vida que os homens desdenham num gesto displicente. 

A mim restou o segundo lugar. 

A sombra. 

A mim sobrou a lembrança do que era.

Mas que nunca retornará a ser.

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