terça-feira, 24 de outubro de 2017

Profusão

Uma súbita onda de sentimentalismo vai irrompendo de minha alma e tomando o controle de meu corpo. Meu coração acelera e repentinamente vai se tornando mais difícil respirar. Algumas lágrimas vão surgindo aos poucos, juntamente com imagens que em minha mente não param de pulular, e fazendo a tristeza subir a minha garganta eu começo a engasgar.

Notas tocam os meus ouvidos, e tento me concentrar nos timbres que as diferenciam. São vozes doces, apaixonadas, e pianos tristes, decepcionados, combinando-se em estranhas profusões, confusas, difusas, como as aglomerações sentimentais que dominam o meu ser. 

Os jovens cantam o amor, os homens o perdão, e os violinos melodiam a traição, o horror. E tudo se une numa sinfonia da condenação da existência humana. Felizes os violinos que, sabendo expressar a dor não precisa senti-la para tocar... Ao contrário do homem que, não conhecendo a dor e o horror, nenhum som consegue ressoar.  

Um novo romance, uma nova história, mas as dificuldades logo se mostram na primeira esquina dessa longa avenida do desconhecido futuro ao lado de quem se ama. Um amor revoltado, tão profundissimamente magoado com a própria história que decidiu viver em função do seu próprio ódio. Mas um amor que não consegue resistir aos seus ímpetos mais profundos e animalescos, que despertaram ao pousar o olhar sobre o semblante delicado de um silfo que surgiu em sua odiosa existência. Seu sentimento primitivo passou a lutar com seu sentimento odioso e isso fez o outro chorar, e chorando ele percebeu o que amava de verdade, que não amava odiar, mas sabia que queria apenas amar, e assim esquecer o luto pelos fantasmas do seu passado. 

Oh, que deleite seria para os olhos dos anjos que viam seu amor se ele tivesse entendido antes que ele partisse para nunca mais voltar. Oh, como a melodia de seus gemidos seriam para eles uma sinfonia de profusa alegria. Mas quando suas lágrimas caíram sobre a pedra fria do catafalco onde estava o caixão de seu amado, ele percebeu que a morada eterna daquele que fez com entendesse que o amor é mais belo que o ódio seria aquela madeira, e não os seus braços quentes. Era tarde demais. 

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