quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Palavras sobre a morte

O que a morte deveria despertar nas pessoas? Há quem fique triste e chore com a morte, e embora seja o sentimento mais comum, o luto não é o único sentimento que a morte desperta em nós. 

Talvez seja algum tipo de pressão social, que nos obriga a nos sentir entristecidos quando um ente morre. É o mesmo sentimento que nos obriga a sentir uma dada tranquilidade quando alguém mal se vai. Sabe aquela comoção nacional que se deu quando Bin Laden se foi? É a isso que me refiro... Mas será que apenas as personalidades mundialmente temidas e odiadas despertam em nós o furor da tranquilidade mortuária? 

Acredito que não. Na verdade penso que essa sensação, de se deleitar com a partida de alguém, é mais comum do que se pode imaginar, nós apenas estamos condicionados a não dizer, mas sentir é automático. 

Pode ser que seja só eu, mas não consigo chorar por aqueles que em vida não me eram próximos. Me são estranhos, e talvez o sofrimento dos que os amavam seja para mim mais comovente que sua própria partida. Para ser sincero a maior parte das pessoas que se foram e que conhecia não me despertou mais do que agradecimento por não ser mais obrigado a tolerar suas incômodas existências. 

Sei que pode soar demasiado duro, mas penso que uma sinceridade sóbria seja preferível a uma falsidade inebriante e cega. De fato as lágrimas que não derramei são mais verdadeiras que aquelas motivadas pela culpa ou pelo arrependimento do que não fora feito em vida, ou das palavras ditas.

Não quer dizer que não tenha chorado. Ainda choro por algumas pessoas, mas a morte ainda não cravou em mim suas gélidas garras. Não me senti por ela violado, nem tampouco a amaldiçoei por ter cumprido sua missão. A morte nunca me levou nada. 

Talvez o dia em que ela cubra com seu manto o rosto dos poucos que amo eu vocifere contra sua existência. Mas sempre tive a certeza que não se justifica lutar contra a morte, pelo contrário, sendo ela a força da natureza por excelência não se pode combatê-la. 

As pessoas ao meu redor tendem a ver a morte como algo ruim, sempre vinculada a dor da perda e ao sofrimento, mas eu sempre vi a morte como um ato de caridade, de Deus, que permite que seus filhos parem de espalhar seus pecados por sobre a terra. Nunca vi a morte como uma vilã, muito embora sempre a representem de preto a vejo mais como alguém de branco, que apenas faz o seu trabalho, que mesmo trazendo realmente dor e sofrimento para alguns, também leva a outros o alívio do fim de uma existência torpe e maligna... 

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