terça-feira, 17 de outubro de 2017

Lento efeito

Surpreendi-me absorto em devaneios, em sua maioria de ordem existencialista e sentimental, durantes alguns momentos de uma densa aula de filosofia que assisti nesse fim de tarde/início de noite de terça.

Após uma sessão de terapia também reveladora no tocante a algumas compreensões que ainda não estavam claras em minha mente. Percebi que já tinha conseguido sim chegar a algumas conclusões, em si muito importantes, mas que, antes de demarcarem minha vitória numa espécie de competição de maturidade comigo mesmo, me mostram que essa mesma maturidade é em si mesma um caminho, não um objetivo final. Me atreveria a dizer que se trata de uma causa com fim em si mesma, isto é, o objetivo de se atingir a maturidade não é chegar num estágio final, mas aprender a caminhar de tal forma que se diferencie da forma de caminhar os imaturos, aqueles que ainda não conhecem o caminho.

Refletia também acerca do meu estado atual de mente. Percebi que a minha necessidade constante de um estado mais ou menos permanente acabou me cegando para a inconstância que eu mesmo sou. Com efeito, frequentemente classificava os períodos de minha vida com etiquetas que pudessem, ao menos até certo ponto, refletir o que se passava comigo. Minha tendência negativista fez com essas etiquetas fossem todas preenchidas com palavras tão pessimistas que chego a me perguntar sobre minhas tendências quase obsessivas com a dor e a doença.

Por isso era comum ouvir de mim que passava por uma fase “difícil, complicada, dolorosa” que na verdade apenas ofereciam ao ouvinte, que na maior parte das vezes tratava-se de mim mesmo, uma perspectiva pouco pragmática sobre a ordem real das coisas. Minha necessidade de classificar a tudo fez com que eu me irritasse com a incapacidade de fazê-lo, afinal um dado momento de vida não pode ser reduzido a uma mera palavra, ou a uma oração curta, sendo tampouco expressa em longos textos, que foi o que fiz em muitas dessas fases.

Retomo a reflexão de saber em que fase da vida me encontro: não o sei! Ora, se a complexidade da realidade em que me encontro supera de forma abismal a minha capacidade literária de descrever o que vivo, sinto e penso, logo sou completamente incapaz de dizer como tenho vivido, podendo apenas me abster em dizer alguns dos aspectos dessa mesma fase. Fase essa que tem sido marcada por descobertas, conclusões, mas apenas marcada e não exclusivamente definida por tais coisas.

Essa pode ser apenas uma forma longa e demasiado cansativa de dizer que não sei bem o que tem se passado comigo, e isso pode ser bem verdade, já que em dados momentos eu não faço a mínima ideia do que tem acontecido ao meu redor, mas também em outros momentos penso saber exatamente o que se passa ao meu redor.

Não sei, portanto, se meu sofrimento vem do sentimento que não vi crescendo dentro de mim, ainda que eu mesmo o tenha cegamente o alimentado. Ou se vem dos sentimentos passados que ainda não consegui enterrar e que me assustam como fantasmas podres que um dia viveram ao meu lado; talvez venha da minha inconstância, ou da minha constante teimosia em desejar o inalcançável. Não sei ao certo, e por hoje pouco me importa, se no fim das contas poderei deitar minha cabeça sobre o travesseiro e sentir o efeito lento dos benzodiazepínicos tomar conta do meu ser já ficarei bastante grato por nada compreender. 

2 comentários:

  1. Esse texto é tão maravilhoso que precisaríamos de uma neologia para poder substantivá-lo. Teus pensamentos são traduzidos para palavras de forma incrível, de forma que eu mesmo pude me identificar e me enxergar nessa situação.

    http://assunto-infinito.blogspot.com.br/

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    1. Muito obrigado, espero que tenha sido um ponto de partida para uma boa reflexão João!

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