quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Sonhando acordado

Em alguns dias o sol brilha alegre, e as cores do mundo enchem a alma de um furor incontestável. Em alguns dias ainda que o céu esteja cinza a tranquilidade do frio acalma o coração. Em alguns dias levantamos a cabeça e nos sentimos inundar pela delicadeza de uma gota de orvalho numa pétala de rosa, e em outros dias o calor de nosso interior é maior que o do astro rei.

Mas em alguns dias a natureza não nos influencia com sua beleza. Em alguns dias não importa a cor do céu, o formato das nuvens ou a profusão de estrelas, apenas não estamos a sentir a alegria. Não significa que não a sentiremos novamente, mas que estamos por um tempo dormentes, sem conseguir sentir aquilo...

Sento-me de frente a janela, e vejo os pardais voando nos fios da companhia elétrica e não sinto a poesia do seu cantar. O farfalhar das folhas esmeraldas da casa vizinha não desperta o furor da esperança que o verde costuma em nós despertar.

Apenas fico aqui, sentado, com o olhar fixado no horizonte, mas a mente a viajar. Mas ela não sonha com paisagens diversas e mais belas do que as que se estendem além da minha janela, não... Minha mente sonha com olhares e toques, e aspira outros perfumes a me inebriar... Ah, que sonhar acordado capaz de me arrebatar!

Mas se nem mesmo a beleza que existe ante os meus olhos pode me encantar, como posso ter certeza de que a que inexiste o fará? É uma ditosa incerteza a encarar, e a sonhar acordado enquanto os pássaros lá fora estão a voar... 

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