quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Viver tentando esquecer

Certa vez Fernando Pessoa disse: "Quem quer dizer o que sente não sabe o que se há de dizer.  Fala: parece que mente...  Cala: parece esquecer..." E é com essa reflexão que me debrucei na tarde de hoje, a perguntar ao meu eu o que haveria para se dizer sobre mim. Como era de se esperar não consegui mais do que alguns balbucios, vislumbres de um ente muito maior, mas que minhas palavras são incapazes de descrever. 

A inspiração para as palavras que digo vem do amor. Mas não só do amor. A inspiração vem do amor, da dor, da tristeza e do langor. O amor sendo doce e visceral, a dor sendo dor, a tristeza como uma duna descomunal e o langor, ah, a languidez é o que sente quem sente tudo. 

Mas tudo isso não é mais do que uma mentira. E é mentira pois o que sente o homem de verdade ele não é capaz de dizer, afinal muitas vezes nem o sabe, mas não por não querer saber, mas por temer saber. É mentira pois, e não confusão, que o homem não sabe o que quer, pois ele o sabe, mas teme dizer até mesmo para si. O julgamento do outro é então impresso no próprio juízo que ele faz de si, e temendo a represália do outro repreende a si mesmo. 

Que infelicidade a do homem, viver desejando esquecer o que se deseja. Triste destino o da estirpe condenada a desejar, sonhar e aspirar e não a viver. O que vivemos então? Vivemos a mentira de realizar os sonhos que nunca sonhamos, enquanto silenciosamente sufocamos o grito do desejo que no profundo ser de cada um deseja viver. 

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