sábado, 28 de outubro de 2017

Como se nada tivesse acontecido

O dia amanheceu, e uma brisa fria vem entrando pela janela, tocando meu rosto com delicados sopros e fazendo balançar o meu cabelo. Parece-me que toda a natureza carrega consigo uma espécie de poder arrebatador, que nos faz flutuar para aqueles lugares em que sonhamos, ao lado de quem sonhamos... Ou talvez nós, os apaixonados, que tenham a mania de se desligarem do mundo para sonhar com aquilo que nunca terão. 

E admito que só hoje já pensei nele umas dez vezes, e isso porque nem saí da cama ainda, mas ah, as imagens já me vem a mente com uma força irrefreável. Irrefreável e irrefutável, e o apaixonado, que tenta não pensar naquele que lhe causa dor e amor, se percebe sendo fraco, frágil e falho. Fraco por não ter forças para lutar contra os próprio ímpetos, frágil por permitir-se quebrar com tanta facilidade e falho por não conseguir tomar a firme decisão de fazer o que é certo para si e para o próximo. 

Como disse Mario Quintana certa vez "Eu, agora - que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo de lembrar que te esqueci?" me sinto como quem esqueceu, mas que apenas repetiu para si mesmo essa verdade na tentativa de convencer o próprio interior, mas que não conseguiu superar, não conseguiu esquecer. Antes ainda, parece até que as lembranças que deveria esquecer se solidificaram no fundo de minha alma. Agora, mais duras do que o aço, parece-me que nunca me deixarão em paz, e voltarão sempre a me amedrontar, sempre a jogar em cima de mim todos os erros que cometi, para que hoje ele não estivesse aqui.

E daí advém um vazio, cujas tentativas de preenchimento se mostram tão patéticas quanto as dos homens tentarem vencer a fome no mundo. É uma batalha sem rumo, sem sentido. Não há como encontrar solução. Todas as coisas que faço se mostram tentativas falhas de preencher o vazio deixado por outras pessoas, como se ao estarem comigo pegassem uma parte de mim, e ao saírem levassem consigo essa mesma parte, deixando um vazio no meu ser.

Oh, como queria poder demonstrar em palavras o que sinto quando penso em você, e quem sabe ser capaz de fazer você compreender. Se pudesse entender pensaria que se trata de sua casa o meu coração, de tanta coisa sua que há em mim, mas como você não está aqui, só o que resta é o vazio que essas coisas insistem em recordar.

Talvez o meu maior inimigo seja minha própria memória. Talvez o segredo para minha felicidade seja o esquecer. Oh, como quisera esquecer, e não mais me entristecer. Mas ao que me parece, ao menos que receba uma forte pancada na cabeça, não há como viver como se nada tivesse acontecido... Será que a vida seria mais doce assim? Será que o céu brilharia em lindas cores para mim, e não mais me entristeceria até mesmo com o mais belo azul a cintilar sob o meu olhar?

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