sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Levando flores

"Sinto abalada minha calma,
Embriagada minha alma,
Efeitos da tua sedução..." (Cartola)

O efeito da paixão é, acredito eu, infinitamente mais poderoso que o da embriaguez. Viver dessa forma é viver perigosamente no limite fino entre a realidade e a obsessão travestida de fantasia. 

Dificilmente consigo perceber quando estou a cruzar os umbrais de uma consciência limítrofe a razão... Mas agora, quando já estou a contemplar os horizontes da antiga existência segura, me vejo a tremer de pânico, com minha alma a arder na noite escura. 

Mas eu sei, e como sei, o quanto é perigoso cruzar esse limite. Pois como bem já vivi a muralha entre o sentimento bom e racional e o sentimento fatalmente desequilibrado é tudo o que impede uma pessoa de cair na completa loucura, movida pelos desejos luxuriosos de sua mente deturpadamente perturbada.

Mas a paixão é como uma chama lúgubre ardendo numa parede escura. Encanta o olhar e o coração atraindo a atenção para sua inebriante e tórrida morte. Ah a paixão... Abalar a alma é um eufemismo demasiado exagerado para explicar a paixão. A paixão é cegueira, é morte traiçoeira, é um amarrar-se sozinho no cadafalso da própria condenação!

Os apaixonados levam flores aos amados, mal percebem eles que levam flores também aos próprios túmulos, depois de tê-los eles mesmos cavados as suas covas, e entregado-se aos braços enamorados dos seus carrascos. 

"Sinto abalada minha calma,
Embriagada minha alma,
Efeitos da tua sedução..." (Cartola)

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