domingo, 21 de maio de 2017

Hecatombe

Eu acordei em minha casa, não sei em que período do dia, e tudo estava diferente...

Percebi que a aura das pessoas mudara, e que algo nas pessoas em si também estava bem diferente. Primeiro notei algumas pessoas estranhas da minha família que não costumam vir visitar e que aqui estavam, depois me atentei para o fato de que todos estavam apreensivos.

Não me lembrava de nada que tinha acontecido até ali, apenas uns poucos flashes de um passei alguns dias atrás que acabara mal. Enquanto andava por entre o cerrado da fazenda do meu padrinho em Minas Gerais fomos atacados por cães, vários deles, mas todos estavam doentes. Éramos um grupo pequeno, e eu sendo fraco logo fui derrubado e precisei da ajuda de alguém que estava próximo de mim, não recordo quem. 

Os animais tinham a aparência bizarra que todos os doentes tem. Olhos ensaguentados e pele destruída, certamente resultado das suscetivas brigas por comida que sucedem o contágio. E eu percebi naquele momento que todos haviam se mudado para minha casa por conta dessa doença. Era uma espécie de cataclismo biológico. 

Os sintomas apareciam alguns dias após os ataques, logo os olhos se tornavam ensaguentados e as pessoas, e os animais, se tornavam violentos por transmitir seu vírus bizarro. Morriam alguns dias depois do aparecimentos dos primeiros sintomas. O que fez o governo baixar leis que pudessem ajudar a população. A descoberta de uma cura havia se mostrado ineficiente até ali e os cientistas alimentavam nas populações uma esperança infundada de que tudo ficaria bem. Por isso fomos instruídos de forma clara: os contagiados deveriam ser sacrificados logo se percebessem os primeiros sinais de contágio. As pessoas não deviam se ajudar em combates, a regra era correr, e abandonar o seus. Essa se tornou a forma de viver.

Pequenas comunidades começaram a surgir tão logo a doença se alastrou, e um uma espécie de êxodo começou, como todas as pessoas saindo do interior e indo em direção a cidade, onde a segurança era maior, já que os investimentos do governo em armas que eliminavam a doença (matando o hospedeiro, obviamente) tinha sido bem mais eficaz que a empreitada científica de descoberta da cura.

As pessoas viviam agora em suas casas, ainda mais fechadas do antes da doença, com muitos parentes em volta. Os ricos pagavam por seguranças, que se tornou o emprego mais popular dessa época. Os que não eram tão ricos assim se arriscavam a sair de casa por rotas desenvolvidas de forma que minimizassem os ataques. 

Como os doentes em sua maioria embora violentos fossem fracos, morressem rapidamente e não pudessem correr a imagem de pessoas simplesmente mudando de lado na rua com um porrete em mãos se tornou bem comum.

A tranquilidade voltou a reinar depois que as pessoas começaram a se habituar a perder os seus, e a sacrificar os seus. As pessoas também em sua maioria aprenderam a lutar, embora uma parcela da população ainda vivesse trancada em quartos ou cômodos vazios, escuros e úmidos por medo do contágio.

A situação em minha casa era de tranquilidade, éramos um grupo grande, e bem capaz de se defender, sendo alguns poucos não-combatentes, eu incluso. Me tornara um tipo de estrategista, pois consegui sobreviver praticamente sozinho em meus ataques com pouca ou quase nenhuma ajuda.

Me dei conta de que as imagens do ataque do passeio se tratavam de meu primeiro ataque, e logo depois comecei a me preparar para os outros, pois sabia que não seria salvo pra sempre, já que logo a regra do abandono foi baixada em todo território nacional. 

Mas eu ainda tinha medo, e as pessoas estavam tranquilas demais. Como estrategista tinha ideias que podiam minimizar a incidência dos contágios, mas as pessoas não queriam lutar, queriam viver como se não houvesse doença.

Todas as vezes em que alguém saia eu me sentia apreensivo, e ficava na porta a sua espera, ainda mais aflito quando algum doente passava pela rua ou que via alguém correndo. Quando essa pessoa voltava me sentia tranquilo novamente. 

Me senti mal enquanto percebia que nosso futuro era incerto, e embora todos ignorassem isso, a nossa displicência iria nos levar a morte. Mas não havia nada que pudesse fazer com relação a isso, por era só um em meio uma sociedade inteira que vivia com medo, e que viveria assim até o fim. 

Em dado momento recebi um estranho poder, que apareceu tão repentinamente quanto a doença, e me fazia capaz de irradiar uma luz que tornava todos os doentes saudáveis e todos os saudáveis em imunes. Mas nem assim as pessoas queriam lutar.

Percebi então num sobressalto que a luz atraia os doentes, quando me virei e vi que uma gigantesca horda de doentes esperava por mim além daqueles portões de minha casa.

Acordei então assustado pelo despertador, me lembrando que já era hora de me arrumar para a Missa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário