Atravessei uma noite difícil, certamente há muito já não
passava por um momento de provação tão grande quanto este. A aridez espiritual
era total e o pânico tomou conta de mim até quase o amanhecer...
Nada foi capaz de aplacar a onda de névoa que imobilizou os
meus sentidos e me transformou numa fonte de horror e medo. Nem mesmo lágrimas
conseguia derramar, tamanha era a angústia que tomava conta de meu coração, que
sugando toda a energia do meu ser me largou como uma casca seca, sem vida, sem
vontade, sem amor, sem nada!
Tudo o que havia em mim era tristeza, um sentimento de dor,
morte, e na boca, um gosto de sangue que me deixou inquieto durante toda a
madrugada.
Virava de um lado para outro a todo momento, aumentava o
volume da música, trocava o álbum, nada funcionou. Nem mesmo os remédios para
dormir fizeram efeito, tomei todos os que tinha e ainda fiquei acordado, como
se estivesse preso a esse mundo por um jugo que não deixava minha alma
descansar no reino dos sonhos.
E foi ai que os pensamentos mais mórbidos tomaram conta de
mim. Eu naquele momento só conseguia pensar numa coisa que fosse capaz de fazer
cessar aquele fogo que me consumia: o manto frio da morte!
Pensei por horas em como deveria morrer, em como gostaria de
morrer, e em como isso acabaria com minha dor...
Desejei com todas as minhas forças o nada, a inexistência...
Desejei provocar no outro a dor e a solidão que venho experimentando em minha
própria carne... Desejei ser devorado pelos vermes, ser absorvido pela terra,
retornar ao pó, ao útero primitivo... Desejei com todas as minhas forças morrer! Mas nem para morrer serve um covarde!
Quando finalmente consegui dormir, lá pelas tantas da
madrugada, fui assolado por terríveis pesadelos que envolviam meu Paladino
Dourado, o que só trouxe apenas mais angústia a um já magoado coração...
Veio a manhã e o pânico e a fadiga haviam passado, mas
deixaram cicatrizes profundas. Um cansaço enorme toma agora conta de meu corpo,
e aquela tristeza e aridez permanecem bem vivas ainda dentro de mim. Aliás, são
as únicas coisas que ainda parecem viver em mim...
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